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O problema mente corpo nos processos físicos e de conhecimento do mundo

“A Ciência física avançou deixando a mente de fora daquilo que tenta explicar, mas pode ser que haja mais sobre o mundo de que a ciência física é capaz de entender”

(RESUMO:Este artigo tem por objetivo apresentar, de modo objetivo, comentário da experiência apresentada por NAGEL, no texto citado, e desenvolver um comentário apresentando opinião crítica sobre a afirmação de NAGEL de que: a) um processo mental não pode ser analisado em partes menores a exemplo dos processos físicos; e, b) “Não é possível somar partes físicas para obter um todo mental; como quesitos do Módulo II – O problema mente-corpo, desenvolvido no período de 01 de novembro de 2007 a 30 de dezembro de 2007, da proposta para a segunda versão do Programa do Doutorado Institucional do Instituto Pack ter sobre Filosofia da Mente, pela Profª Titular Mariluze Ferreira Andrade e Silva, objetivando tematicamente, com as questões dos outros módulos, investigar as contribuições dadas pela biologia e pela neurociência à Filosofia da mente para o entendimento da relação corpo-alma-mente, enfocando a condição humana em situações existenciais de seus mundos possíveis. Proporcionar uma reflexão sobre as colocações de NAGEL, que propõe argumentações do processo mente-corpo, de maneira a observar a relação do ser (subjetivo) e o mundo real possíveis.
Palavras-chaves: Mente-Corppo, Mundos real possíveis e ser humano)

NAGEL inicia suas reflexões, questionando sobre: Como sabemos alguma coisa? O interior da nossa mente é a única coisa da qual podemos ter certeza? Nossas crenças, em geral, sejam sobre história, ciência, outros povos, até sobre a existência do nosso próprio corpo – estão baseadas em nossas experiências e pensamentos, sentimentos e impressões sensoriais; ou seja, nas evidências de nossos sentidos? Será que as coisas nos pareceriam diferentes se, de fato, todas elas existissem apenas na nossa mente? Se tudo o que nós julgássemos ser o mundo externo real fosse apenas um sonho ou alucinação gigante, de que nós jamais fossemos despertar? Se assim fosse, então é claro que nós nunca poderíamos despertar, como ocorre no sonho, pois significaria que não há mundo “real” no qual despertar. Logo, não seria exatamente igual a um sonho ou alucinação normal.

NAGEL, continuando seus questionamentos, levanta-nos outra situação: Se nós quisermos descobrir se o que há dentro da nossa mente serve de guia para o que está fora dela, não poderemos apoiar-se no que as coisas parecem ser – a partir do interior da nossa mente – para obter uma resposta. Mas onde mais se apoiar? Todas as evidências acerca de qualquer coisa têm de vir através da nossa mente – seja na forma de percepção, seja como testemunhos de livros e de outras pessoas, seja como memória – e tudo aquilo de que nós temos ciência é inteiramente compatível com a idéia de que não existe absolutamente nada que não seja o interior da nossa mente.

Se tivermos uma visão de solipsismos (solitária), poucas pessoas a sustentariam, nem mesmo NAGEL a sustenta. Outra visão seria a denominada de ceticismo acerca do mundo externo. Onde se não podemos estabelecer a confiabilidade de nossas experiências sensoriais em relação ao mundo externo, também não há razão para pensarmos que podemos confiar em nossas teorias científicas. Outra visão que NAGEL apresenta é a do verificacionismo. Outro aspecto apresentado foi sobre o dilema egocêntrico, ou seja, escapar da prisão de nossa mente, do pensamento que o mundo pode consistir apenas no interior da nossa mente, ainda que nem eu nem ninguém possamos descobrir se isso é verdade, provando que ela é falsa sem argumentar em circulo.

Após todas essas argumentações, NAGEL, admite que é praticamente impossível levar a sério a idéia de que todas as coisas que vemos no mundo, à nossa volta, na realidade podem não existir. Nossa aceitação do mundo externo é instintiva e poderosa: argumentações filosóficas não bastam para livrar-nos dela. Não apenas continuamos a agir como se as outras pessoas e coisas existissem: acreditamos que existem mesmo depois de termos aceitado argumentos que pareçam mostrar que não temos razão para sustentar tal crença. Isso quer dizer, porém, que nós agarramos as nossas crenças habituais sobre o mundo a despeito do fato de que: a) elas podem ser totalmente falsas; e, b) não temos fundamento para descartar essa possibilidade.

NAGEL, no capítulo 4. O PROBLEMA MENTE-CORPO questiona-nos sobre a relação mente-corpo. Qual pode ser a relação entre a consciência e o cérebro? Coloca-nos, que todos sabem que o que acontece na consciência depende do que acontece ao corpo. Exemplo: Se você der uma topada com o dedo do pé, ele irá doer. Ao que tudo indica, para que alguma coisa aconteça em sua mente ou consciência, é preciso que algo aconteça no seu cérebro – alguma coisa que envolva alterações químicas e elétricas nos bilhões de células nervosas que compõem o seu cérebro.

Em alguns casos, sabemos de que maneira o cérebro afeta a mente e de que maneira a mente afeta o cérebro. Desconhecemos muitos dos detalhes, mas é evidente que existem relações complexas entre o que acontece na sua mente e os processos físicos que se desencadeiam no seu cérebro. Mas, filosoficamente, NAGEL, faz uma indagação sobre a relação entre mente e cérebro, que é a seguinte: a mente é diferente do cérebro, embora esteja vinculada a ele, ou ela é o cérebro? Seus pensamentos, sentimentos, percepções, sensações e desejos são coisas que acontecem além de todos os processos físicos que ocorrem no seu cérebro, ou são, elas próprias, alguns desses processos físicos?

NAGEL considerou, que ao saborear uma barra de chocolate, suas experiências estão no interior da sua mente com um tipo de interioridade que é diferente do modo como seu cérebro está no interior da sua cabeça. Uma outra pessoa pode abrir sua cabeça e observar o que há dentro dela, mas não pode abrir sua mente e examiná-la – não dessa forma pelo menos. Conclui-se, a possibilidade, que deve haver uma alma ligada ao corpo, de tal forma que ambas possam interagir. Se isso é verdade, então você é constituído de duas coisas muito diferentes: um organismo físico complexo e uma alma puramente mental (essa visão é chamada de dualismo, por razões obvias). Outra opinião, de que as pessoas não passam de matéria física, e que seus estados de espírito são estados físicos cerebrais, é denominada fisicalismo (ou, as vezes, materialismo). Os fisicalistas não têm uma teoria especifica sobre qual processo cerebral pode ser identificado com a experiência de saborear chocolate, por exemplo. Mas acreditam que os estados de espírito são apenas estados do cérebro, e que não há nenhuma razão filosófica para pensar que não sejam. Os detalhes terão de ser descobertos pela Ciência.

Portanto, a idéia é que podemos descobrir que as experiências são, na verdade, processos cerebrais, tal como descobrimos que outras coisas conhecidas têm uma natureza real que não poderíamos ter adivinhado, até que foi revelada pela investigação cientifica. E, por mais complexas e numerosas que sejam as ocorrências físicas no cérebro, elas não poderiam ser as partes que compõem a sensação do gosto. Em todo estado físico pode ser analisado em partes físicas menores, mas um processo mental, não. Não é possível somar partes físicas para obter um todo mental.

Além da visão do dualismo, que afirma que somos constituídos de um corpo e uma alma, e que nossa vida mental tem lugar em nossa alma e do fisicalismo, que sustenta que a vida mental consiste em processos físicos que se desenrolam no cérebro; temos a teoria do aspecto dual (concepção de que o cérebro é a sede da consciência) a de que a vida mental ocorre no cérebro, ainda que todas essas experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não sejam processos físicos do cérebro, envolvendo várias alterações químicas e elétricas, e um aspecto mental – a experiência do sabor do chocolate.
Pessoalmente, NAGEL, acredita que o aspecto interno da dor e de outras experiências conscientes não pode ser adequadamente analisado em termos de nenhum sistema de relações causais com estímulos e comportamentos físicos, por mais completos que sejam.

Para NAGEL, parece haver dois tipos muito distintos de coisas que acontecem no mundo: as coisas que pertencem à realidade física, que muitas pessoas podem observar de fora, e as coisas que pertencem à realidade mental, que cada um de nós experimenta interna e individualmente. E isso é verdade não somente para os seres humanos: cachorros, gatos, cavalos e pássaros parecem ser conscientes, e é provável que também os peixes, as formigas e os besouros. Quem sabe onde isso acaba?
Após levantamento dos pontos de vistas de Thomas Nagel acerca do problema mente-corpo nos processos físicos e de conhecimento do ser no mundo, passarei ao comentário da experiência apresentada por ele no texto supra citado, como resposta a primeira questão do Módulo II.

NAGEL procurou mostrar de maneira mais reflexiva, questionamentos, do que apresentando posicionamentos resolutivos, que mesmo com o avanço da ciência física nos vários aspectos teóricos e dos processos físicos mentais do ser humano no mundo, contextualizado na década de 70, observa-nos, a necessidade da ciência física de pesquisar mais a mente, pois não aborda (va) os processos físicos mentais na relação da mente-corpo-ser humano no mundo e com o mundo: “A ciência física avançou deixando a mente de fora daquilo que tenta explicar, mas pode ser que haja mais sobre o mundo do que a ciência física é capaz de entender” (Thomas Nagel)

Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer, o problema mente-corpo (deixado de lado pelas ciências na década de 70), fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção e acumulo de saberes: esses objetivos e propósitos das ciências não são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas. Os cientistas parte delas como questões já respondidas, mas é a filosofia; quem as fomenta e busca respostas para elas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo.

Conhecimento é o desvendar o esclarecimento da realidade. O mundo mental de cada um é diferente e cada pessoa percebe esta realidade de forma diversa. O conhecimento de que trata a filosofia é um retorno reflexivo da elaboração cognitiva sobre si mesma, isto é, o conhecimento passa a ser o seu próprio objeto. Dessa forma, diríamos que o conhecimento é uma análise crítica da linguagem ou simbolismo em que a realidade é expressa. Trata-se de uma posição crítica ponderando o valor e o alcance do próprio conhecimento, o qual o conhecimento cientifico devia ocupar-se quanto aos processos da mente.
“Como modo do ser-homem, o conhecimento humano é uma maneira de existir, uma maneira de ser envolvido no mundo, isto é, o sujeito mesmo” (W. Luipen).

Não é apenas o fato de raciocinar, de ter um sistema nervoso mais complexo, mas, principalmente, o fato de opor o polegar e ser capaz de manipular os objetos que o leva a se perceber como algo separado do mundo, embora inserido nele. Isto conduz a uma série de conseqüências, inclusive ao ato de filosofar.

A investigação filosófica, pois, consiste em tomar como objeto da consciência o próprio ato de consciência das coisas, física-mentalmente, é uma busca do significado imutável das coisas em si (essência). Ela é uma atitude, um ato de reflexão e apreensão, metodicamente controlado.

Na filosofia, pois, aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser no mundo, isto porque há em nós uma inquietação existencial congênita. Ao filosofar, avivamos nossa própria luz interior, fazemos um exercício de aproximação e de encontro com o que é buscado. Há, pois, o descobrimento e o diálogo, em busca do conhecimento. Por isso, a filosofia é o conhecimento do conhecimento. Ai está sua diferença com relação à ciência. Enquanto esta trata dos dados experimentais da realidade, a filosofia trata das idéias, conceitos ou representações mentais daquela mesma realidade.

O ser racional é plenamente consciente de seu saber, o que lhe permite utilizá-lo de modo intencional. Ele transcende a natureza e constrói a si próprio. È, pois, um fator determinante daquilo de que participa. È uma existência dialética, porque se relaciona com a natureza e as pessoas, que por sua vez, têm influência sobre ele próprio. E é isto que cabe à Filosofia considerar e compreender, juntamente com a Ciência.

Na Filosofia e com a ciência, aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser no mundo, num relacionamento dialético entre a mente corpo mundo, propiciando-lhe um conhecimento, uma consciência crítica-reflexiva.
O homem, com a sua existência-que é a práxis -, tem a capacidade de superar a própria subjetividade e conhecer as coisas como realmente são. Na existência do homem não se reproduz somente a realidade humano-social, reproduz-se espiritualmente também a realidade na sua totalidade. O homem existe na totalidade do mundo, mas a esta totalidade pertence também ao homem com a sua faculdade de reproduzir espiritualmente a totalidade do mundo. Os homens agem dentro da situação dada e na ação prática conferem um significado à situação.

Quanto à segunda parte do Módulo II, para o desenvolvimento do meu comentário apresentando opinião crítica sobre a afirmação de NAGEL de que:

a) um processo mental não pode ser analisado em partes menores a exemplo dos processos físicos; e,

b) “Não é possível somar partes físicas para obter um todo mental”, tenho a expor o seguinte:

a) esta afirmação de NAGEL fundamenta-se na teoria do aspecto dual – físico e mental – que procede na (s) experiência (s), por exemplo, morder uma barra de chocolate, o cientista poderá observar o aspecto mental (a experimentar a sensação de saborear o chocolate), num processo mental ocorrido (s) na totalidade, dos vários aspectos particularizados da natureza mental de nossos estados de espírito; consistente na relação desses estados com as coisas que os causam e com as coisas que eles causam. Por exemplo: quando machucamos o dedo e sentimos dor, a dor é algo que acontece no nosso cérebro.

Parece, portanto, haver dois tipos muito distintos de coisas que acontecem no mundo: as coisas que pertencem à realidade física, que muitas pessoas podem observar de fora e analisá-lo através do método indutivo (particular para o geral); e, as coisas que pertencem à realidade mental, que cada um de nós experimenta interna e individualmente e analisada através do método dedutivo (geral para o particular), ainda que todas as experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não sejam processos físicos do cérebro, mas também uma grande quantidade de atividades química e elétrica, que ocorrem nos processos mentais; cujo estado psíquico reage também prontamente às doenças que afetam outras partes do corpo.

Como qualquer outra parte do corpo, o Sistema Nervoso está sujeito a várias doenças – tanto orgânicas, afetando a estrutura nervosa, como funcionais, atingindo uma parte do corpo ou do encéfalo, mas não alterando aquela estrutura.

Situado no vértice do Sistema Nervoso Central o cérebro, centraliza a atividade fisiológica e a interpretação dos impulsos externos. Do ponto de vista fisiológico, compete-lhe o controle consciente e inconsciente de todas as funções vitais, em relação ao ambiente e a todos os outros órgãos. A rapidez de resposta e, em geral, as características funcionais, dependem da natureza do tecido constituinte, formado por neurônios e células da glia (ou neuroglia). Por sua estrutura especial os primeiros permitem transmitir os impulsos de uma zona para outra do sistema nervoso, por meio de conexões denominadas sinapses. As células da glia, por sua vez, atuam – como suporte e dão proteção aos neurônios.

Portanto, podemos concluir, quanto à questão a) um processo mental não pode ser analisado em partes menores a exemplo dos processos físicos; não podemos concordar totalmente com o posicionamento de NAGEL, pois, percebemos hoje, que com os estudos da Biofilosofia, apresentado pelo farmacologista Philippe Mayer, enfocando questões como o pensamento, a memória e a linguagem, o autor considera a Biologia moderna essencial para meditar as grandes incógnitas da condição humana, numa perspectiva de conhecimentos voltados para o relacionamento das ciências humanas e sociais, com as clínicas neurológicas, psicológicas e filosóficas (Filosofia Clinica), estimulando o diálogo entre as ciências biológicas, exatas e humanas, propiciando elementos, que NAGEL, solicitava da Ciência, na década de 70. Levando-nos a considerar que o processo mental pode ser analisado no conjunto do Sistema Nervoso, num processo particularizado na detecção de sintomas neurológicos.

Quanto à questão: b) “Não é possível somar partes físicas para obter um todo mental”, temos que considerar que nesse posicionamento, NAGEL, limitou-se em suas argumentações, na observação experienciais de saborear o chocolate, onde foi de fato, apenas um processo cerebral. Teríamos de analisar alguma coisa mental – não uma substância física observável externamente, mas uma sensação de sabor interna – em termos das partes físicas. Uma característica essencial desse tipo de análise é que não se trata de uma decomposição química do modo como vemos, sentimos e saboreamos água/chocolate. Essas coisas acontecem na nossa experiência interna, não da água/chocolate que foi decomposta em átomos. A análise física ou química da água /chocolate desconsidera essas experiências. E, por mais complexas e numerosas que sejam as ocorrências físicas no cérebro, elas não poderiam ser as partes que compõem a sensação do gosto.

Creio que há possibilidades, no sentido de diagnosticar sintomas neurológicos, ou doenças psicossomáticas (resultantes da interação da mente-corpo) advindas do mundo externo para o interno, pois o estado psíquico reage prontamente as doenças que afetam outras partes do corpo. Em regras, apenas as partes do corpo que estão sob o controle do Sistema Nervoso involuntário ou autônomo, tais como o trato digestivo, as glândulas endócrinas, o coração, os pulmões, a bexiga e a pele. Exemplo: As úlceras do estômago.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto às questões apresentadas neste Módulo II, tenho a considerar que a contribuição de NAGEL, no Capítulo 4. O problema mente-corpo, propiciou elementos para questionamento sobre o processo mente-corpo-ser no mundo, mas faltaram procedimentos resolutivos das questões levantadas nas visões dualista, fisicalistas e na teoria do aspecto dual, recursos solicitados por NAGEL às ciências, na década de 70, para uma maior resolução nos processo mentais/físicos.

Para KOSIK, Karel (1976:9) :
a realidade não se apresenta aos homens, à primeira vista, sob o aspecto de um objeto que cumpre intuir, analisar e compreender teoricamente, cujo pólo oposto é complementar seja justamente o abstrato sujeito cognoscente, que existe fora do mundo e aparentado do mundo; apresenta-se como o campo em que se exercita a sua atividade prático-sensível, sobre cujo fundamento surgirá a imediata intuição prática da realidade. No trato prático-utilitário com as coisas – em que a realidade se revela como mundo dos meios, fins, instrumentos, exigências e esforços para satisfazer a estas – o individuo “em situação” cria suas próprias representações das coisas e elabora todo um sistema correlativo de noções que capta e fixa o aspecto fenomênico da realidade. (…) Todavia, “a existência real” e as formas fenomênicas da realidade – que se reproduzem imediatamente na mente daqueles que realizam uma determinada práxis histórica, como conjunto de representações ou categorias do “pensamento comum” (que apenas por “hábito bárbaro” são consideradas conceitos) – são diferentes e muitas vezes absolutamente contraditórias com a lei do fenômeno, com a estrutura da coisa; e, portanto, com o seu núcleo interno essencial e o seu conceito correspondente. (…) A característica precípua do conhecimento consiste na decomposição do todo. O “conceito” e a “abstração”, em uma concepção dialética, tem o significado de método que decompõe o todo para poder reproduzir espiritualmente a estrutura da coisa, e, portanto, compreender a coisa. A dialética não atinge o pensamento de fora para dentro, nem de imediato, nem tampouco constitui uma de suas qualidade. O conhecimento é que é a própria dialética em uma das suas formas. O homem só conhece a realidade na medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático.

Nesta perspectiva Isabele Filliozat, na reflexão filosófica Um mundo de projeções, nos coloca:
… o olhar que você repousa sobre as coisas, os acontecimentos e as pessoas determina o significado que elas têm para você e, portanto, determina à realidade. Nós não cessamos de interpretar o mundo em função de nossas experiências anteriores, nossas expectativas, nossos desejos e nossas emoções. O mundo que nós percebemos não é a realidade do mundo, aliás, ela existe além de nós? O mundo que nós percebemos é o reflexo de nossas projeções. (…) Teremos acesso apenas a nossa representação do mundo. Um primeiro filtro entre o mundo real e a nossa representação é a limitação de nossos órgãos sensoriais. (…) Nosso cérebro interpreta automaticamente todos os sinais que recebe. Assim, não estamos mais em contato com a realidade, mas com nossa interpretação da realidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA BÁSICA
NAGEL, Thomas. O problema mente-corpo. In: Uma breve introdução a Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. PP. 27-37.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COMPLEMENTAR

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Tradução de Célia Neves e Alderico Torísio. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. Cap. I – Dialética da totalidade concreta. O Mundo da Pseudoconcreticidade e a sua destruição . PP. 9-20.

FILLIOZAT, Isabele na reflexão filosófica Um mundo de projeções

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