Siga-nos:

O eu objetivo: a identidade essencial versus acidental da subjetividade particular do sujeito num mundo sem centro em situações de mundos possíveis

“Há um problema crucial da subjetividade, que persiste mesmo depois de admitirmos que os pontos de vistas e as experiências subjetivas fazem parte do mundo real – mesmo depois de reconhecermos que o mundo é cheio de pessoas dotadas de mentes, com pensamentos, sentimentos e percepções que não podem ser totalmente submetidos à concepção física de objetividade. Essa admissão geral deixa-nos ainda com um problema por resolver, o da subjetividade particular. O mundo assim concebido, embora extremamente variado quanto aos tipos de coisas e perspectivas que contém, continua desprovido de centro. Ele contém todos nós, e nenhum de nós ocupa uma posição metafisicamente privilegiada. Cada um de nós, no entanto, ao refletir sobre este mundo sem centro, deve admitir que um fato muito amplo parece ter sido omitido de sua descrição: o fato de que uma determinada pessoa nele é ela mesma”. (Thomas NAGEL)

(RESUMO:Este artigo tem por objetivo apresentar de modo sistemático um problema crucial a resolver: da subjetividade particular (o eu do ser no mundo sendo ele mesmo), ou seja a identidade essencial versus acidental da subjetividade particular do sujeito num mundo sem centro em situações de mundos possíveis, evidenciado no item 3. A visão sem centro; questões essas colocadas por NAGEL (2004:87-108) , no capítulo IV – O eu objetivo, visando desenvolver reflexões fundamentais para a compreensão do sujeito no mundo e de si mesmo. Procuraremos, desenvolvê-las de modo descritivo e reflexivo, onde o problema mente cérebro, que atinge a todos nós, advindo dele, porém subjetivadas por nós; num processo de reflexão filosófica, na busca de um mundo objetivo (povoado de objetos físicos visíveis, numa perspectiva do advir histórico na práxis humana, cujas relações sociais propiciem os elementos necessários para o bem viver no bem comum a todos. Portanto, neste Módulo IV- O eu objetivo, desenvolvido no período de 01 de março a 30 de abril de 2008, como pré-requisito, da proposta de Doutorado Institucional em Filosofia do Instituto Packter – Filosofia da Mente, pela Professora Titular Mariluze Ferreira Andrade e Silva; objetivando tematicamente, com as questões dos outros módulos, investigar as contribuições dadas pela biologia e pela neurociência à Filosofia da mente para o entendimento da relação corpo-alma-mente, enfocando a condição humana em situações existenciais de seus mundos possíveis, procuraremos abordar, em duas partes, apresentadas por NAGEL, a relação entre os pontos de vista subjetivo e objetivo do fato de uma determinada pessoa ser ela mesma (particular) num mundo sem centro, ponto de vista específico, em situações possíveis com todos os seres humanos contextualizados em relações com outros seres, num primeiro momento, procurando responder a pergunta: Como é possível que uma determinada pessoa seja ela mesma no todo?, na busca de algo absolutamente essencial ainda não especificada, a saber, qual dessas pessoas sou/somos. Por outro lado, porém, parece não haver lugar, nesse mundo sem centro, por um fato adicional: o mundo visto assim de nenhum ponto de vista parece de tal forma completo que exclui esses acréscimos; este é o mundo simplesmente, e toda a verdade sobre a pessoa(eu)/nós, já esta nele, ou seja, a primeira parte da pergunta é esta: Como pode ser verdade que uma determinada pessoa, um individuo particular – eu/nós, que é apenas uma das muitas pessoas em um mundo objetivamente destituído do centro, seja eu/nós?. A segunda parte da pergunta talvez nos seja menos familiar: Como é possível que eu/nós seja(mos) meramente uma certa pessoa?. Procuraremos apresentar uma solução ao problema, de como é que –posso ser/sermos algo tão especifico como uma determinada pessoa no mundo – qualquer pessoa. Concluindo, que a primeira pergunta surge da aparente totalidade de uma descrição do eu/nós; e do mundo que não diz se ele sou eu/nós ou não, enquanto a segunda questão surge de algo relacionado com a idéia de “eu”/”nós”.
Palavras-chaves: O eu objetivo, subjetividade particular, mundo, mundos possíveis, identidade essencial/acidental, “eu” e “nós”)

Na Filosofia e com a ciência, aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser no mundo, num relacionamento dialético entre a mente corpo mundo, propiciando-lhe um conhecimento, uma consciência crítica-reflexiva.
O homem, com a sua existência – que são a práxis -, tem a capacidade de superar a própria subjetividade e conhecer as coisas como realmente são. Na existência do homem não se reproduz somente a realidade humano-social, reproduz-se espiritualmente também a realidade na sua totalidade. O homem existe na totalidade do mundo, mas a esta totalidade pertence também o homem com a sua faculdade de reproduzir espiritualmente a totalidade do mundo. Os homens agem dentro da situação dada e na ação prática conferem um significado à situação.

“Como modo do ser-homem, o conhecimento humano é uma maneira de existir, uma maneira de ser envolvido no mundo, isto é, o sujeito mesmo” (W. Luipen).

Na filosofia, pois, aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser no mundo, isto porque há em nós uma inquietação existencial congênita. Ao filosofar, avivamos nossa própria luz interior, fazemos um exercício de aproximação e de encontro com o que é buscado.

No item I – SER ALGUÉM, NAGEL argumenta sobre a primeira pergunta e a segunda pergunta, concluindo no que diz respeito ao que eu/nós realmente sou/somos, pode parecer que qualquer relação que eu/nós tenha(mos) comigo/conosco, deve-ser casual e arbitrária, ou seja, posso habitar em mim /nós mesmo(s) ou ver(mos) o mundo pelos meus/nossos olhos, mas não posso/ podemos ser(mos) “eu”nos”. Eu/Nós não posso/podemos ser meramente uma pessoa. Desse ponto de vista, pode parecer que “Eu sou eu”, na medida em que seja verdadeiro, não é uma proposição de identidade, mas de sujeito-predicado.

NAGEL procura torná-lo claro, falando que as duas partes da pergunta correspondem aos dois enfoques sob os quais se pode perguntar: Como é possível que Eu (sujeito na primeira pessoa) seja eu? Como posso ser Eu?. Trata-se, ao estilo Cartesiano, que deve ser entendido pelos outros como aplicando-se a si mesmos na primeira pessoa , assimilando-se ao fato de que estou contido no mundo, sem centro, com toda sua imensidão espaço-temporal, tenha produzido a mim entre todas as outras pessoas – e que tenha produzido a mim produzindo Eu(formação de um organismo físico particular), num lugar e tempo particulares; repentinamente passei a existir, e existirei(emos) enquanto esse organismo sobreviver. Como é possível que a existência de um membro de uma espécie tenha essa conseqüência notável?

Tentando evocar um enigma agudamente intuitivo e convencê-lo de que ele contém algo real, NAGEL, propõe-se, dar conta da pergunta a despeito de sua expressão verbal, e a dificuldade consiste em propô-la sem convertê-la em algo superficial ou dar margem a respostas que pareçam adequadas a sua forma verbal mas que de fato, não são pertinentes ao problema que se encontra sob a superfície. Em Filosofia, a pergunta nunca se reduz ao que dizemos.

NAGEL, inicia-se suas reflexões, com a primeira parte da pergunta: Como é possível que Eu seja eu?, pois ao abordá-la seremos naturalmente levados à segunda parte, cuja concepção de mundo para ele não tem lugar, é uma concepção conhecida, que as pessoas carregam consigo a maior parte do tempo, ou seja, segunda ela, o mundo simplesmente existe, sem ser visto de nenhuma perspectiva particular, de nenhum ponto de vista privilegiado – ele simplesmente está aí e, portanto, pode ser apreendido de vários pontos de vista, contendo todas as pessoas, e não somente seus corpos mas também suas mentes, ou seja, ele inclui todos os indivíduos que existem, de todos os tipos, bem como todas as suas propriedades mentais e físicas.

De fato, é o mundo, tal como concebido de lugar nenhum dentro dele, porém, não pode ser incluso nele nessa perspectiva – o fato de que uma dessas pessoas, Eu, seja o lócus das minhas consciências, o ponto de vista a partir do qual podemos observar e atuar no mundo; sendo considerada uma verdade adicional, além da descrição mais detalhada da história, das experiências e das características do “Eu”, ficando na expressão pessoal ou da minha consciência, cuja verdade pode ser enunciada e entendida sob minha perspectiva, na primeira pessoa. Não encontrando lugar no mundo, se o mundo que concebemos é algo que simplesmente existe e não tem centro, obrigando-nos a incluir que “ser eu” é uma propriedade objetiva qualquer da pessoa “Eu”, ou alguma relação dessa pessoa com outra coisa. Mas, assim, que ela se torna um aspecto do Eu objetivo, posso indagar de novo: “Qual dessas pessoas sou eu?; a resposta nos contará algo novo.

Conclui-se, que nenhum fato novo que possa ser expresso sem a primeira pessoa resolverá o problema: por mais completa que se torne a concepção de mundo sem centro, o fato de que Sou Eu (pessoa) será omitido, parecendo não haver lugar para ele nessa concepção; mas a concepção de mundo sem centro deve incluir todos os inúmeros sujeitos de consciência numa condição mais ou menos igual – mesmo que alguns vejam o mundo mais claramente que outros. O mundo não pode conter fatos que dizem respeito irredutivelmente à primeira pessoa. Mas, sendo assim, não se poderá dizer que a concepção sem centro exclui alguma coisa. Ela inclui tudo e todos, e o que ela não inclui não existe e, portanto, não está excluído. O que está excluído deve existir, e, se o mundo como um todo realmente não tem um ponto de vista particular, como é possível que um de seus habitantes tenha a propriedade especial de ser eu?. Tendo alguma solução, deverá ser uma solução que harmonize as concepções de mundo subjetiva e objetiva; exigindo uma interpretação da verdade de que Eu sou eu, que diz respeito irredutivelmente à primeira pessoa e, algum desdobramento da concepção sem centro do mundo para que ela possa assimilar tal interpretação.

Portanto, se o fato de eu ser Eu não é um fato acerca do mundo sem centro, então é preciso explicar de alguma maneira que outra coisa isto seria, pois, com certeza, não apenas parece ser verdadeiro como extremamente incomum; sendo para NAGEL, uma das coisas mais fundamentais que pode/mos dizer sobre o mundo, passando a argumentá-lo, como um claro exemplo da impossibilidade de eliminar os indicativos de uma concepção completa do mundo e que ele também revela algo sobre cada um de nós. Esse problema é semelhante em forma ao problema sobre a realidade do tempo, tratado por DUMMETT (1960) , ou seja, uma descrição totalmente objetiva do mundo não permite que se identifique um determinado momento como presente. Pode-se descrever a ordem temporal dos acontecimentos sem adotar nenhum ponto de vista dentro do mundo, mas não seu desenrolar presente, passado ou futuro. Contudo, o fato que esse momento particular seja agora parece ser uma verdade fundamental da qual não podemos abrir mão. A descrição atemporal da ordem temporal é essencialmente incompleta, pois exclui a passagem do tempo.

No item 2. UM DIAGNÓSTICO SEMÂNTICO (SIGNIFICATIVO), NAGEL, acredita poder problematiza a explicação do conteúdo do pensamento e sua verdade sem trivializá-lo, necessitando, porém, primeiro pôr fim a objeção, da expressão de um pensamento filosófico vazio de conteúdo significativo, do enunciado “Eu sou eu”, sem a análise da verdade enunciada na primeira pessoa; regida por condições de verdade que podem ser perfeitamente expressa sem o uso de indicativo. Podendo ser em todo, apenas de uma simples questão de semântica (sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados).

Antes de oferecer uma descrição positiva, NAGEL, examina essa afirmação deflacionária, pois ela até pode nos ajudar a estabelecer o que há de distintivo no pensamento filosófico situado no eu e de que forma ele transcende a semântica mundana da primeira pessoa.

Portanto, o enunciado “Eu sou eu” é verdadeiro, se e somente se pronunciado por Eu. Podemos entender como funcionam esse enunciado e outros, por exemplo “Hoje é terça-feira”, que será/é verdadeiro se e somente se pronunciado na terça-feira, colocando-os no contexto em que foram enunciados numa concepção de mundo inteiramente desprovida de centro; vemos então que seu significado e sua verdade não dependem da existência de “fatos” adicionais que só podem ser expressos na primeira pessoa (ou no tempo presente) e que, misteriosamente, parecem ser aspectos essenciais do mundo e, ao mesmo tempo, estar completamente excluídos dele.

O sentido desses enunciados requer apenas que o mundo contenha pessoas comuns, como Eu/nós, que usem a primeira pessoa de forma usual. Seu sentido não é igual ao dos enunciados em terceira pessoa que expressam suas condições de verdade, já que sua verdade depende de quem os faz. Não podem ser substituídos por análises feitas na terceira pessoa. Mas os fatos que os tornam verdadeiros ou falsos são todos exprimíveis por tais enunciados na terceira pessoa, cujo modo de ver o mundo é apenas o mundo sem centro, e pode-se falar e pensar nele, a partir de seu interior, em parte com a ajuda de expressões como “eu”, que formam enunciados cujas condições verdade dependem do contexto da enunciação – contexto que, por sua vez, está totalmente incorporado à concepção de mundo destituída de centro.

Tudo o que diz respeito ao uso da primeira pessoa pode ser analisado sem utilizar a primeira pessoa. Portanto, essa observação completamente geral oferece uma resposta simples a nossa pergunta sobre que tipo de verdade é essa de que uma das pessoas no mundo, Eu, sou eu. Verdade esta bastante mínima, já que o enunciado “Eu sou eu” é automaticamente verdadeiro e não desperta nenhum interesse se pronunciado por mim/nós; deixando de haver dúvidas quanto ao seu significado, assim que entendemos sua lógica. A questão é que os indicativos são geralmente intraduzíveis em termos objetivos, pois são usados para referir-se a pessoas, coisas, lugares e épocas a partir de uma posição particular dentro do mundo, sem depender de que o usuário tenha um conhecimento objetivo dessa posição.

Podemos observar, portanto, que a objeção de NAGEL, ao diagnóstico semântico é que ele não faz o problema desaparecer; devendo ser um sinal de que há algo errado com o argumento, o fato de que a questão semântica correspondente sobre o “agora” não neutraliza-se a perplexidade de alguém sobre como é possível que um determinado tempo seja o presente, ou seja, as condições de verdade dos enunciados que utilizam tempos verbais podem ser expressas sem se recorrer a termos que façam referência ao tempo, mas isso não elimina a sensação de que uma descrição da história do mundo que não faça uso de tempos verbais (incluindo a descrição dos enunciados das pessoas que se utilizam de tempos verbais e seus valores de verdade) é fundamentalmente incompleta, pois não nos permite saber qual é o tempo presente. De impessoais para enunciados na primeira pessoa não capacita ninguém a fazer esses enunciados sem utilizar a primeira pessoa.

Em si, a descrição semântica de “eu”, como um indicativo entre outros, não tem nada de errado, embora os detalhes abram espaço para divergências. Ela nos diz como funciona a primeira pessoa na comunicação corrente, como quando alguém pergunta: “Qual de vocês é tal pessoa?, e a pessoa responde “sou eu”. Tais fatos são objetivos comuns acerca do falante que os tornam verdadeiros ou falsos. Nem que, ao serem feitos, esses enunciados indicam a existência de algum tipo no fato especial. São apenas declarações produzidas por indivíduos comuns como “eu”(pessoa).

Quando utilizamos enunciados corriqueiros em primeira pessoa, como “Olá, sou (nome da pessoa)” ou “Sou o dono desse carro”, transmitem informações que outros podem expressar na terceira pessoa, embora não sejam sinônimos dos enunciados correspondentes na terceira pessoa. Porém, mesmo quando uma concepção objetiva inclui toda a informação pública com respeito à pessoa de “nome”, o pensamento adicional de que: a pessoa sou eu aparece claramente ter um conteúdo extra. E o fato de que o conteúdo cause surpresa é significativo. A percepção que dá origem ao problema pode ser expressa na primeira pessoa por qualquer um, não apenas por mim(NAGEL), por isso o uso de “eu” aqui deve ser regido por condições semânticas que sejam gerais o bastante para aplicar-se a qualquer pessoa que possa ter o seguinte pensamento: minha primeira compreensão do uso de “eu” pode ser na sua aplicação ao meu próprio caso, mas, em certo sentido, posso também entende ao que outra pessoa se refere quando o utiliza.

No item 3. A VISÃO SEM CENTRO, NAGEL, utiliza-se da segunda parte da pergunta, a parte que indagarão como é possível que certa pessoa, nome, seja eu, mas como é possível, que eu seja algo tão especifico como uma pessoa em particular (nesse caso, nome da pessoa), para explicar o tipo especial de referencia da palavra “eu”, procurando como primeira explicação as perguntas: “Porque isso causaria perplexidade? Que outra coisa eu poderia ser senão uma pessoa em particular?. Em resposta, NAGEL, diz que a perplexidade vem do fato de que eu ser “nome da pessoa”(ou quem quer que seja) parece acidental, e minha identidade não pode ser acidental. Meu eu real habita “nome da pessoa”, por assim dizer; ou a pessoa publicamente identificável como “nome da pessoa” contém meu eu real. De um ponto de vista puramente objetivo, minha conexão com “nome da pessoa”(eu) parece arbitrária.

Portanto, para chegar a essa idéia, começou-se examinando o mundo como um todo, como se fosse a partir de lugar nenhum, e nesses oceanos do espaço e do tempo, a pessoa (nome) é apenas uma pessoa entre uma infinidade de outras. Adotando-se essa perspectiva impessoal produz em mim (pessoa) a sensação de completo distanciamento de “nome da pessoa”, que se reduziu a um lampejo na tela de tevê do cosmo.

NAGEL, apresenta como imagem o seguinte: não têm, essencialmente, nenhum ponto de vista particular, mas apreende o mundo como se ele não tivesse centro; mas habitualmente, vê o mundo a partir de uma certa posição vantajosa, visando os olhos, a pessoa, a vida cotidiana dele/eu(pessoa) como uma espécie de janela, cujas experiências e perspectivas dele/eu que se apresentam a ele/eu de maneira direta não são o ponto de vista do verdadeiro eu, pois o verdadeiro eu não tem ponto de vista e, em sua concepção do mundo sem centro, inclui, entre os conteúdos desse mundo, ele/eu e sua/pessoa perspectiva.
Portanto, é esse aspecto do eu que entra em consideração quando NAGEL/pessoa olha o mundo na sua totalidade e pergunta: “Como é possível que NAGEL/pessoa seja eu? Como é possível que eu seja NAGEL/pessoa?”. É ele que confere um conteúdo peculiar ao pensamento filosófico situado no eu.

NAGEL, buscando, requerer modificações em sua primeira descrição do problema, evocado vagamente sobre o “verdadeiro” eu e sua essência, argumentou no capitulo Mente-Corpo, que não podemos descobrir nossa natureza essencial a priori – que ela pode incluir atributos que não estão contidos em nossa concepção de nós mesmos; mas, no entanto, demonstra, que algo essencial nele/ na pessoa não tem nada a ver com sua/da pessoa perspectiva e posição no mundo.

Esse era seu desejo de examinar: Como abstraio o eu objetivo da pessoa (nome)?. Tratando as experiências individuais da pessoa(nome) como dados para a construção de uma imagem objetiva, ou seja, projeto a pessoa(nome) no mundo como uma coisa que interage com os demais e pergunto como deve ser o mundo visto a partir de nenhum ponto de vista particular, para que se apresente a pessoa(nome) tal como se apresenta a partir de seu ponto de vista; sendo necessária uma ligação especial irrelevante, com a pessoa(nome); embora ele receba as informações de seu ponto de vista diretamente, tentando lidar com elas para construir uma imagem objetiva, assim como faria se as informações chegassem a ele. Imediatamente, sem conceder-lhe nenhuma posição privilegiada em relação a outros pontos de vista.

Nessa idealização de NAGEL, grande parte das suas concepções de mundo provem diretamente do que ele/a pessoa transmite, tendo apoiado excessivamente na experiência, na linguagem e na experiência dele/da pessoa e nem sempre submetendo cada uma de suas crenças pré-teóricas a uma avaliação imparcial.

Propõe, que o eu objetivo (último estágio do sujeito que, se antes de se reduzir a um ponto destituído de extensão), tendo em muito em comum com o “sujeito metafísico” do Tractatus de Wittgenstein 5.641, o ego transcendental de Husserl, embora NAGEL não compartilhe do “idealismo transcendental” ao qual está ligada sua fenomenologia (Husserl seção 41), nem tampouco aceite o solipismo do Tractatus) deveria ser capaz de lidar com experiências provenientes de qualquer ponto de vista. È o sujeito que não possui perspectiva que constrói uma concepção do mundo desprovida de centro, por reunir todas as perspectivas no conteúdo desse mundo.

Na realidade, o eu objetivo, para NAGEL, é apenas uma parte do ponto de vista de uma pessoa comum, e sua objetividade desenvolve-se em diferentes graus, em diferentes pessoas, em diferentes estágios da vida e da civilização. O movimento básico que lhe dá origem não é complicado e não requer teorias cientificas avançadas: é o movimento simples de conceber o mundo como um lugar que inclui a pessoa que sou dentro dele, tal como qualquer outro de seus conteúdos – em outras palavras, a concepção de mim mesmo a partir de fora.

Assim, NAGEL pode distanciar da perspectiva irrefletida da pessoa particular que eu( a pessoa) pensava ser. O passo seguinte consiste em conceber, a partir de fora, todos os pontos de vista e experiências dessa pessoa e das outras de sua espécie e considerar o mundo como um lugar em que esses fenômenos são produzidos pela interação entre esses seres e outras coisas, iniciando a ciência. E, mais uma vez, sou eu (a pessoa) que dou esse passo atrás, afastando-me (pessoa) não só do ponto de vista individual, mas de um tipo específico de ponto de vista.

Na visão do mundo destituída de centro podem convergir diferentes pessoas, e é por isso que existe uma estreita relação entre objetividade e intersubjetividade. No estágio inicial, a intersubjetividade é ainda inteiramente humana e a objetividae tem uma limitação correspondente. Trata-se de uma concepção que só pode ser partilhada por outros seres humanos.

O eu objetivo que encontro ao ver o mundo através da pessoa (nome) não é singular: cada um de nós temos um, ou seja, cada um é um, pois o eu objetivo não é uma entidade distinta. Cada um de nós, então, além de ser uma pessoa comum, é um eu objetivo particular, o sujeito de uma concepção de realidade desprovida de perspectiva.

Podemos explicar o conteúdo do pensamento filosófico “eu sou eu (pessoa)” se entendermos que o “eu”(pessoa) se refere a mim/ a pessoa qua sujeito da concepção impessoal do mundo que contém a pessoa, permanecendo ainda a referência essencialmente indicativa e não pode ser eliminada em favor de uma descrição objetiva, mas o pensamento evita a trivialidade porque depende do fato de que essa concepção impessoal do mundo, embora não conceda nenhuma posição especial a pessoa, está atrelada a perspectiva da pessoa(nome) e se desenvolve a partir dela; ajudando a explicar o sentimento de assombro que acompanha o pensamento filosófico – a estranha sensação de que sou e não sou o eixo do universo. Vemos como sujeito ou centro do universo quando penso nele, incluindo o eu(pessoa), em termos puramente objetivos e nos identificamos simplesmente como o eu objetivo que é o sujeito dessa concepção, em vez de outra coisa qualquer dentro do seu âmbito, tal como um organismo físico, ou o ocupante de uma posição particular no tempo e no espaço, ou o sujeito de uma perspectiva individual dentro do mundo. Mas também sou eu (pessoa/nome), e o mundo não é o mundo da pessoa(nome) ele não é seu sujeito.

Há, duas formas de referência a pessoa(nome) e devemos explicar a referência em primeira pessoa nesse contexto filosófico sem trivializar o pensamento. Quando considero o mundo objetivamente, o que acontece é que se evidência um aspecto de minha identidade que antes estava oculta e que produz uma sensação de distanciamento do mundo, mas parecendo que eu de fato esteja ligado a ele em algum ponto particular.

O eu objetivo é o único aspecto significativo sob o qual eu posso me referir a mim mesmo subjetivamente que é fornecido somente pela concepção objetiva do mundo – pois ele é o sujeito dessa concepção. E é o único aspecto de mim mesmo que de inicio pode parecer ligado à perspectiva de pessoa (nome) apenas de maneira acidental – um eu que vê o mundo através da perspectiva pessoal (nome da pessoa).

Portanto, o eu objetivo nos situa ao mesmo tempo dentro e fora do mundo e nos oferece possibilidades de transcendência que, por sua vez, criam problemas de reintegração. A reconciliação desses dois aspectos a de nós mesmos é uma tarefa filosófica primária da vida humana – talvez de qualquer tipo de vida inteligente.

A mente humana se revela muito mais ampla de que precisaria ser para simplesmente acomodar a perspectiva de um perceptor e agente humano individual dentro do mundo. Ela não apenas pode conceber uma realidade mais objetiva como pode ampliá-la numa sucessão de etapas objetivas que já levaram muito além das aparências. E permite que diferentes indivíduos e partindo de pontos de vistas divergentes, convirjam para concepções que podem ser universalmente partilhadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do exposto podemos concluir que:

 Um enunciado cuja verdade dependa do contexto de enunciação não pode ser traduzido em outro cuja verdade não dependa desse contexto, e isso é um fato elementar.

 Não se pode fazer uso disso para fabricar um mistério metafísico. Se “eu sou eu(pessoa)” parece afirmar uma verdade adicional sobre o mundo, é apenas porque não preciso saber quem sou para usar “eu” ao me referir a Eu(pessoa). Portanto, esse é um exemplo da regra geral de que um falante pode referir-se a si mesmo como “eu” mesmo sem saber, objetivamente, quem é. Dificilmente se trata de uma verdade profunda acerca do universo.

 NAGEL, acredita, que a questão crucial, é se a eliminação de pensamento particular em primeira pessoa em favor de suas condições de verdade impessoais produz um hiato significativo em nossa concepção de mundo.

 Embora a objeção semântica não diagnostique completamente o problema da existência de modo que elimine sua existência, ele sugere que a solução deve ser geral em algum sentido. Portanto, deve ser possível dizer alguma coisa sobre o conteúdo do pensamento em primeira pessoa que possa também ser compreendida pelos outros.

 NAGEL, questiona e coloca sobre a possibilidade de que eu(pessoa), que se encontre agora pensando sobre todo esse universo sem centro, seja algo tão especifico cuja existência transcorre num diminuto segmento do espaço-tempo, dotada de uma constituição física e mental definida nas de forma universal? Como posso ser algo tão pequeno e concreto e especifico?

 Somos todos sujeitos do universo sem centro, e a identidade meramente humana ou marciana deveria parecer-lhes arbitrária, ou seja, quer dizer que ele/ a pessoa, individualmente, seja o sujeito do universo; diz apenas que é um sujeito que pode ter uma concepção do universo sem centro na qual ele(pessoa) não passa de um pontinho insignificante que facilmente poderia nunca ter existido.

 O eu que parece incapaz de ser alguém em particular é o eu que apreende o mundo a partir de fora, não a partir de um ponto de vista situado dentro dele. Mas não é que seja necessário existir somente um eu como este.

 A pessoa esta contida no mundo, e nenhuma delas é seu centro ou ponto focal. Assim, sou ao mesmo tempo o foco lógico de uma concepção objetiva do mundo e um ser particular nesse mundo que não ocupa qualquer posição central, explicando como o pensamento “eu sou eu(pessoa), pode ter um conteúdo não trivial e, de fato, quase tão notável quanto parece de inicio, mesmo não traduzindo o pensamento em um acerca do mundo concebido objetivamente , ele identifica um fato objetivo que corresponde ao pensamento e explica como este pode ter um conteúdo interessante o bastante para dar conta de seu “sabor filosófico”, já que a concepção objetiva tem um sujeito, a possibilidade que ele esteja presente no mundo existente, e é o que permite NAGEL e nós , unir as visões objetivas e subjetivas , onde o “eu” deve ser a referência em virtude de algo maior cuja inclusão no mundo não é óbvia, e o eu objetivo qualifica-se para esse papel.

Nesta perspectiva de NAGEL, KOSiK, Karel (1976:9 e 62) , nos diz que: “a realidade não se apresenta aos homens, à primeira vista, sob o aspecto de um objeto que cumpre intuir, analisar e compreender teoricamente, cujo pólo oposto é complementar seja justamente o abstrato sujeito cognoscente, que existe fora do mundo e aparentado do mundo; apresenta-se como o campo em que se exercita a sua atividade prático-sensível, sobre cujo fundamento surgirá a imediata intuição prática da realidade. No trato prático-utilitário com as coisas – em que a realidade se revela como mundo dos meios, fins, instrumentos, exigências e esforços para satisfazer a estas – o individuo “em situação” cria suas próprias representações das coisas e elabora todo um sistema correlativo de noções que capta e fixa o aspecto fenomênico da realidade. (…) Todavia, “a existência real” e as formas fenomênicas da realidade – que se reproduzem imediatamente na mente daqueles que realizam uma determinada práxis histórica, como conjunto de representações ou categorias do “pensamento comum” (que apenas por “hábito bárbaro” são consideradas conceitos) – são diferentes e muitas vezes absolutamente contraditórias com a lei do fenômeno, com a estrutura da coisa; e, portanto, com o seu núcleo interno essencial e o seu conceito correspondente. O homem só conhece a realidade na medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático. (…) O individuo não é apenas aquilo que ele próprio crê nem o que o mundo crê, é também algo mais: é parte de uma conexão em que ele desempenha um papel objetivo, supra-individual, do qual não se dá conta necessariamente. O homem como “preocupação” (o mundo no sujeito) é a própria subjetividade sempre fora de si, visa a uma outra coisa qualquer, ultrapassa continuamente a própria subjetividade”.

“Nosso cérebro interpreta automaticamente todos os sinais que recebe. Assim, não estamos mais em contato com a realidade, mas com nossa interpretação da realidade” (Isabele Filiozat, na reflexão filosófica Um mundo de projeções)

BIBLIOGRAFIA
NAGEL, Thomas. O eu objetivo. In: Visão a partir de lugar nenhum. Tradução de Silvana Vieira. São Paulo: Martins Fontes. 2004.Cap. IV, P.87-108

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Tradução de Célia Neves e Alderico Torísio. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. Cap. I – Dialética da totalidade concreta. O Mundo da Pseudoconcreticidade e a sua destruição . PP. 9-20.
Ibidem of cit p. 62

Compartilhar