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Nayla

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Nayla é uma mulher de 31 anos, bonita desde que a adolescência passou. Tem um filho de 5 anos que mistura as letras quando discutem com ele e um marido que é um grande amigo. Nayla é feliz com seu marido, seu filho e com seu relacionamento íntimo fora do casamento com um homem bem mais velho. Nayla, conforme todos que a conhecem, é boa mãe, boa esposa, boa amiga. Um dos primeiros nomes quando se faz uma daquelas listinhas de convidados.

O que traz alguém como Nayla ao meu consultório? Ela descobriu que o homem mais velho com quem ela convive intimamente fora do casamento a traiu com outra mulher, uma desconhecida que ela pesquisou em bolsos, contatos de chamadas não atendidas, MSN e tardes de espreita em frente ao apartamento do homem. A queixa de Nayla é que não se pode mais confiar em ninguém, o mundo perdeu o rumo dos valores, os sentimentos são agora escambo.

Nayla casou para ter uma família. Nunca procurou por qualquer coisa fora do casamento que lembrasse um relacionamento íntimo, aconteceu apenas. É como se o compromisso do casamento, a trajetória que percorreu existencialmente no casamento tivesse como consequência necessária a passagem por uma vivência aparentemente paradoxal. O casamento, se existe um culpado, a levou a isso. O relacionamento afetivo de Nayla fora do casamento a tornava alguém melhor, melhor mãe, melhor esposa, melhor amiga, melhor Nayla em si mesma e para todos.

Pesquisando as questões internas em Nayla e sua organização existencial, algo se tornou aparente: um casamento para ela envolveria um terceiro, um relacionamento íntimo com um segundo homem.

Muitos aprendem que coisas como um casamento, uma família, uma amizade, uma atividade têm linhas exatas nos quadrantes de demarcação, espaços iluminados que apontam limites, riscos e marcas no ar e nas paredes, portas e chaves para afirmar o que está em um lado de dentro e em um lado outro qualquer.

Muitos aprendem que estas coisas não funcionam assim e não sabem disso até que finalmente constroem uma família, um trabalho, uma vida. Então descobrem.

Nayla não vai para o inferno, não vai para o céu e não existe um lugar para ela. Este lugar que não existe para ela é o espaço que se cria entre espaços e que desafia a alma que tenta se comportar como se fosse uma coisa. No caso dela, foi isso o que aconteceu.

artigo publicado na edição 52 da revista Filosofia, da Editora Escala.

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