“Ao investigar as crenças mnemônicas, há certos pontos que devem ser tidos em mente. Em primeiro lugar, tudo o que constitui uma memória-crença está acontecendo agora, não naquele tempo passado a que se diz refletir-se essa crença”
(RESUMO:Este artigo tem por objetivo desenvolver de modo sistemático o enunciado epigrafado, colocando em evidência o que Bertrand Russell entende por Memória; introduzindo-nos numa das formas do mundo do conhecimento. Nesta IX Conferência – MÉMÒRIA, Russell apresenta-nos a análise do conhecimento-memória, tanto como introdução ao conhecimento em geral, como também porque a memória, de certa forma, é pressuposta em quase todo o outro conhecimento. A sensação, como concluiu, não é uma forma de conhecimento. Russell inicia a nossa discussão pela percepção, isto é, pela experiência integral das coisas no ambiente, de onde se obtêm a sensação, através da análise psicológica. Difere-nos o que se chama de percepção da sensação pelo fato de que os ingredientes sensoriais carregam com eles os associados habituais – imagens e expectativas dos seus correlatos normais – todos subjetivamente indistinguíveis da sensação. A experiência passada é fato essencial na produção de conteúdo da sensação, mas não a recordação da experiência passada. Portanto, os elementos não sensoriais da percepção podem ser inteiramente explicados. Como resultado do hábito produzido por correlações freqüentes. O que resulta formalmente, do nosso conhecimento do passado através de imagens cuja inexatidão nós conhecemos é que tais imagens devem ter duas características por meio das quais poderemos organizá-las em duas séries, em que uma corresponde ao período mais ou menos remoto no passado a que se referem, e a outra à nossa maior ou menor confiança na sua exatidão. Poderemos concluir, que as imagens são consideradas por nós como cópias de impressões: (1) as que podem ser chamadas impressões de familiaridade; (2) as que podem ser coligadas como impressões que dêem um sentido do passado (Pasthess). A primeira espécie de impressões leva-nos a nossas lembranças, a segunda leva-nos a atribuir-lhes lugares na ordem temporal. Russell analisa a crença- mnemônica em comparação com as características de imagens que levam a basearmos as nossas crenças-mnemônicas nelas. É obvio que a memória é o que nos faz chamar as experiências passadas de “nossas”; é a memória que prolonga nossa personalidade recuando-a no tempo; é a memória de nossa experiência, não simplesmente das coisas as que experienciamos.
Palavras-chaves: Memória, percepção, sensação, associados habituais, experiências, crenças mnemônicas, conhecimento-memória)
Bertrand Arthur William Russell, uma das maiores e mais controvertida figura do pensamento filosófico contemporâneo, nasceu na cidade de Trellek, País de Gales, em 10 de maio de 1872. Oriundo de uma família pertencente à aristocracia britânica. Um homem que não temia rever radicalmente suas idéias – e mais de uma vez o fez – quando isso lhe pareceu necessário, à luz de descobertas e concepções mais modernas.
Dotado de uma impressionante erudição, Bertrand Russell trilhou praticamente todos os caminhos no terreno das ciências que se ocupam do Homem, deixando atrás de si varias dezenas de livros a atestar a extraordinária abrangência de suas preocupações humanistas. Suas maiores contribuições situam-se na área da Filosofia, particularmente na lógica – tradicional dos predicados e lógica das relações e na logística, traduziu em enunciados pertinentes os fundamentos da teoria matemática dos números reais. Sua teoria das descrições, desenvolvida nos princípiz Mathemática, suas contribuições à Epistemologia e à Ética é igualmente relevante.
Em a análise da mente, busca harmonizar duas diferentes tendências, uma em Psicologia e a outra no campo da Física, que são aparentemente inconsistentes. De um lado, muitos psicólogos, especialmente os adeptos do behaviorismo, tendem a adotar uma posição essencialmente materialista, que torna a Psicologia progressivamente dependente da fisiologia e da observação externa. Concebendo a matéria como algo muito mais concreto que a mente. O mundo, a seu ver, consiste em eventos, dos quais deriva a matéria por meio de uma construção lógica.
Propõe como resposta reconciliadora ao impasse a tendência materialista da Psicologia, com a tendência antimaterialista da Física é a teoria de William James e dos neo-realistas norte americanos, que concebem um mundo cujo elemento não é mental nem material, mas um elemento neutro, a partir do qual são construídos o mental e o material. Esforça-se na obra por desenvolver essa teoria com certo por menor, quanto aos fenômenos com a Psicologia se preocupa, em forma das conferências feitas em Londres Pequim e uma conferência, a que trata do Desejo foi publicada no Athenábaum.
Estaremos detendo atenção a Conferência IX – Memória, que introduz-nos numa das formas do mundo do conhecimento, onde Russell tenta a analise do conhecimento-memória, tanto como introdução ao conhecimento em geral, como também – porque a memória, de certa forma, é pressuposta em quase tudo. Outro conhecimento a sensação, como concluiu, não é uma forma do conhecimento. Inicia-nos a nossa discussão pela percepção, isto é, por essa experiência integral das coisas no ambiente, de onde se obtém a sensação pelo fato de que os ingredientes sensoriais carregam com eles os associados habituais – imagens e expectativas dos seus correlatos normais – todos subjetivamente indistinguíveis da sensação. A experiência passada é fato essencial na produção deste conteúdo da sensação, mas não a recordação da experiência passada. Os elementos não sensoriais da percepção (não é forma de conhecimento mais do que a sensação, exceto na medida em que implica expectativa) podem ser inteiramente explicados como resultado do hábito, produzido por correlações freqüentes; onde a memória suscitará problemas muito difíceis e importantes, que é necessário considerá-los.
Uma das razões que nos levam a tratar da memória neste ponto é que ela parece estar implicada no fato de que as imagens são conhecidas como “cópias” de uma experiência sensível passada, numa alusão ao principio de Hume: de que todas as nossas idéias simples, que são correspondentes a elas; e, que elas representam com exatidão, ou melhor, na opinião de Russell, “que as idéias representam impressões aproximadamente”, desejando apresentar à consideração de Hume, qual seja: porque acreditamos que as imagens são, algumas vezes ou sempre, aproximadamente ou exatamente, cópias das sensações? Que espécie de evidência há? E que espécie de evidência é logicamente possível?
A dificuldade desta questão surge através do fato de que a sensação de que uma imagem se supõe ser a cópia está no passado, quando a imagem existe, e, portanto, só pode ser conhecida pela memória, enquanto, por outro lado, a memória das sensações passadas parece ser possível por uma maneira de comparar a imagem presente e a sensação passada? É a possibilidade mesma da comparação que é difícil de compreender. Julgamos poder saber que elas são parecidas ou diferentes, mas não podemos juntá-las numa só experiência e compará-las. Para poder lidar com este problema, temos que ter uma teoria da memória. Desta maneira todo o status das imagens como “cópias” está ligado à análise da memória.
Ao investigar as crenças mnemônicas Russell, nos convida a refletir sobre certos pontos que devem ser tidos na mente. Em primeiro lugar, tudo o que constitui uma memória-crença está acontecendo agora, não naquele tempo passado a que se diz referir-se essa crença. Não é logicamente necessário para a existência de uma crença mnemônica que o evento lembrado tenha ocorrido, ou até que o passado tenha absolutamente existido.
Bertrand Russell está tomando a plausibilidade lógica como auxílio na análise do que ocorre quando lembramos. Primeiro quanto à independência lógica do passado, que são totalmente analisáveis em conteúdos presentes; e, segundo, as imagens serem crenças é insuficiente para constituir a memória e os hábitos (conceitos que implica a ocorrência de eventos semelhantes em momentos diferentes) são ainda mais insuficientes. E o mesmo se aplica às imagens.
Podemos nós constituir a memória de imagens juntamente com crenças apropriadas? Podemos aceitar que as imagens mnemônicas, quando ocorrem na verdadeira memória são: (a) conhecidas como cópias; (b) algumas vezes conhecidas como cópias imperfeitas, por exemplo, “se olharmos, digamos, para um nariz vermelho e o percebemos e pouco depois, enquanto explore sua imagem mnemônica, notamos imediatamente que é improvável em sua semelhança, esta imagem mnemônica quanto à percepção original”
O que resulta, formalmente, do nosso conhecimento do passado através de imagens cuja inexatidão nós reconhecemos, é que tais imagens devem ter duas características por meio das quais poderemos organizá-las em duas séries, em que uma corresponde ao período mais ou menos remoto no passado a que se referem, e a outra à nossa maior ou menor confiança na sua exatidão. Tomaremos primeiramente o segundo destes pontos.
A nossa confiança ou falta de confiança na exatidão da imagem mnemônica deve, em casos fundamentais, estar baseada numa característica da própria imagem, dado que não podemos evocar o passado corporalmente e compará-lo com a imagem presente. Russell pensa que a característica pela qual distinguimos as imagens em que temos confiança é o sentimento de familiaridade (suscetível de graus) que as acompanha; e, que é por este meio que nós tornamos críticos das imagens, com as que as comparamos.
Quanto à consideração da outra característica (primeiro ponto), Russell, coloca-nos que as imagens devem ter certas característica que nos faz vê-las, como se referindo a porções mais ou menos remotas do passado. Isto quer dizer que se supusermos que A é o evento lembrado, B o ato de lembrar, e t o intervalo de tempo entre A e B, deve haver certa característica de B que seja suscetível de graus, e que, em memórias exatamente datadas, varie quando t varia. Poderá aumentar quando t aumenta, ou diminuir quando t diminui. A questão de saber qual destes casos ocorre não tem qualquer importância para a viabilidade teórica da característica em questão.
Portanto, há sem dúvida vários fatores (características) que concorrem para dar-nos o sentimento de maior ou menor distância num certo evento lembrado, por exemplo, “sentimento do caráter de coisa passada” (pastness), especialmente quando se trata da memória imediata; o contexto (memórias recentes tem, em geral, mais contexto do que uma memória distante) – ost-pastness, que nos dará um sentido da proximidade ou da distância de um evento lembrado.
Podemos concluir, que as imagens são consideradas por nós como cópias mais ou menos fiéis de ocorrências passadas, porque chegam até nós com duas espécies de impressões: (1) as que podem ser chamadas impressões de familiaridade; (2) as que podem ser coligidas como impressões que dêem um sentido passado (pasthess). A primeira espécie de impressões leva-nos a confiar nas nossas lembranças; a segunda leva-nos a atribuir-lhes lugares na ordem temporal.
Russell, após as considerações anteriores, passa a analisar a crença-mnemônica em comparação com as características de imagens que nos levam a basearmos as nossas crenças-mnemônicas nelas.
Se tivéssemos notado o “sujeito” ou o “ato” no conhecimento, todo o problema da memória teria sido relativamente simples. Poderíamos então ter dito que lembrar é uma relação direta entre o ato ou sujeito presentes e a ocorrência passada lembrada. O ato de lembrar é presente, embora o seu objeto seja passado. Mas a rejeição do sujeito torna necessárias algumas teorias mais complicadas, cujo fundamento pragmático, que encontramos a terminologia de meinong, devia chamar “objeto” na memória, ou seja, o evento passado que se diz estarmos lembrando, esta desagradavelmente remoto do “conteúdo”, na ocorrência mental presente no ato de lembrar.
Existe uma lacuna terrível entre os dois, que levanta dificuldades para a teoria do conhecimento. Portanto, lembrar tem que ser uma ocorrência presente, parecida, de certa maneira, ou relacionada com o que é lembrado. Mas, segundo Russell, não devemos falsificar a observação para evitar as dificuldades teóricas, propõe, por agora, esquecer estes problemas, e tratar de descobrir o que realmente ocorre na memória.
Certos pontos devem ser tomados como estabelecidos, tais como aqueles a que qualquer teoria da memória deve chegar. No estudo da memória, as certezas com que começamos são muito vagas, e as proposições mais precisas e que procuramos chegar são menos certas do que os dados nebulosos de que partimos. Contudo, apesar de risco de erro, a precisão é a meta que devemos procurar atingir.
O primeiro de nossos dados vagos mais indubitáveis é que existe o conhecimento do passado, cuja memória constitui uma parte indispensável do nosso conhecimento passado.
O segundo dado e que temos certamente mais capacidade para conhecer o passado do que para conhecer o futuro. Russell propõe provisoriamente, embora talvez não muito corretamente, definir “memória” como a maneira de saber sobre o passado que não tem análogo no nosso conhecimento do futuro. Tal definição serviria pelo menos para caracterizar o problema em que estamos interessados, embora certas expectativas possam merecer se alinhar com a memória quanto à imediata.
Um terceiro ponto, talvez não tão certo como os dois anteriores, é que a verdade da memória não pode ser totalmente prática, como os pragmatistas desejariam que toda a verdade fosse. A definição de verdade como a correspondência entre crenças e fatos parece peculiarmente evidente no caso da memória, não só contra a definição pragmátista, mas também contra a definição idealista, por meio da coerência. Russell coloca-nos que estas considerações, porém, estão nos afastando da Psicologia, a que devemos agora voltar.
È importante não confundir as duas formas de memória que Bérgson distingue no segundo capítulo da sua Matter and Memory, isto é, a espécie que consiste no hábito, por exemplo, aprender a lição de cor – “lembro”; e, a espécie que consiste na lembrança independente, ou seja, para Bérgson a lembrança de um evento peculiar não pode, ser inteiramente constituído pelo hábito, e é de fato algo radicalmente diferente da memória que é o hábito. Só a lembrança é a verdadeira memória. Esta distinção é vital para a compreensão da memória. O hábito é uma característica intrusa da nossa vida mental, e está muitas vezes presente onde, à primeira vista, parece não estar. Eu posso pôr-me agora a lembrar coisas que nunca lembrei antes, tais como o que comi ao café esta manhã, e dificilmente pode ser exclusivamente o hábito que me permite fazer isto. É esta espécie de ocorrência que constitui a essência da memória. Para Russell, enquanto não tivermos analisado o que acontece num caso como este, não teremos conseguido compreender a memória.
A espécie de memória com que Russell está ocupando agora é a espécie que é uma forma de conhecimento, mesmo que redutível ao hábito, e afirma que, seja qual for à verdadeira análise do conhecimento, o conhecimento das ocorrências passadas não é provado pelo comportamento que é devido à experiência passada, isto é, a nossa crença de que estas imagens se referem a ocorrências passadas, que é o que constitui a memória-conhecimento. É isto que é de interesse para a teoria do conhecimento, onde Russell, falar-nos-á dela como “verdadeira” memória, para distingui-la do mero hábito adquirido através da experiência passada; e, antes de considerar a verdadeira memória, Russell, considerar-se-á duas coisas que estão relacionadas com a memória, que são a impressão de familiaridade e identificação.
Para Russell podemos considerar a familiaridade como uma impressão definida, capaz de existir sem um objeto, mas normalmente tendo essa relação específica com uma certa característica do ambiente, sendo essa relação o que podemos expressar por palavras quando dizemos que essa característica em questão nos é familiar. O Juízo de que o que nos é familiar foi experimentado antes é um produto de reflexão, e não é parte da impressão de familiaridade, como a que teria um cavalo quando regressa ao estábulo. Assim nenhum conhecimento quanto ao passado de ser deduzido unicamente do sentimento de familiaridade.
A identificação é outra fase. Esta pode ser tomada em dois sentidos: O primeiro quando uma coisa não nos dá a impressão de ser meramente familiar, mas sabemos ser tal e qual. Identificamos o nosso amigo Jones, conhecemos gatos e cães quando os vemos etc. Aqui temos uma influência definida da experiência passada, mas não necessariamente qualquer conhecimento real do passado.
Porém, existe um outro sentido da palavra, em que nós entendemos por identificação não conhecer o nome de uma coisa ou uma propriedade dela, mas conhecer o que vimos antes. Nesse sentido, a identificação não implica conhecimento acerca do passado. Este conhecimento é a memória num sentido, embora centro não o seja. Não envolve uma memória definida de um evento passado definido, mas somente o conhecimento de que algo que está acontecendo agora é semelhante a algo que aconteceu antes. Difere do sentimento de familiaridade por ser cognitivo; é uma crença ou juízo, que o sentido de familiaridade não é.
Russell deseja-nos acentuar bem que o fato de que a identificação, no nosso segundo sentido, consiste numa crença que podemos expressar aproximadamente por estas palavras: “Isto existiu antes”. Porém, esta avaliação é inadequada, visto parecer à primeira vista mais correto definir a identificação como “Eu vi isto antes” do que “isto existiu antes”. A definição de “a minha experiência” é difícil; em sentido lato, é tudo o que está relacionado com o que estou experimentando agora por meio de certos elos, de que as várias formas de memória se contam entre os mais importantes. Assim, se eu reconhecer uma coisa, a ocasião de sua existência anterior em virtude da qual ou reconheço que forma parte da “minha experiência” por definição, a identificação será uma das características por meio das quais a minha experiência sobressaiu do resto do mundo. As palavras são estruturadas para exprimir um nível de pensamento que não é de forma alguma primitivo, e é perfeitamente incapazes de exprimir uma ocorrência tão elementar como a identificação.
Um segundo ponto é que, quando reconhecemos algo, não foi de fato precisamente a mesma coisa, mas somente algo semelhante, que experimentamos numa ocasião anterior. Portanto, quando emitimos o juízo “eu vi isto antes”, emitimos um juízo falso, se “isto” se considera como se aplicando ao componente real que estamos vendo no momento. Aqui mais uma vez, devemos encontrar um ponto semelhante quanto à verdadeira memória. A essência da identificação está na diferença entre o estimulo repetido (teoria behavioristas) e um novo estímulo. Na primeira ocasião não há identificação; na segunda há. De fato, a identificação é outro exemplo da peculiaridade das leis causais na psicologia, a saber, que a unidade causal não é um evento isolado, mas dois ou mais eventos. O hábito é o grande exemplo disto, mas a identificação é outro. O fenômeno da identificação tem como causa as duas ocasiões em que o estimulo ocorreu; cada uma delas sozinha é insuficiente. Esta complexidade de causas em psicologia pode relacionar-se com os argumentos de Bérgson centra a repetição no mundo mental. Não prova que não haja leis causais da psicologia, como sugere Bérgson; mas prova que as leis causais da psicologia são à primeira vista diferentes da física, na opinião de Russell.
A verdadeira memória, em que Russell nos leva a empenhar em compreender, consiste no conhecimento de eventos passados, mas não todo esse conhecimento. Algum conhecimento dos eventos passados, por exemplo, o que aprendemos lendo história, está em pé de igualdade com o conhecimento que podemos adquirir quanto ao futuro: é obtido por inferência, não (por assim dizer) espontaneamente. Para Russell, a memória se parece com o conhecimento decorrente dos sentidos. È imediato, não inferido, não abstrato, difere da percepção, principalmente por estar em referência com o passado.
Quanto à memória, como em toda a análise do conhecimento, há dois problemas muito distintos, isto é:
(1) quanto à natureza da ocorrência no ato de conhecer;
(2) quanto à relação desta ocorrência com o que se conhece.
Quando nos lembramos, o ato de conhecer é agora, enquanto o que é conhecido está no passado. Nossas duas perguntas, no caso da memória são:
(1) Que é a ocorrência presente quando lembramos?
(2) Qual a relação desta ocorrência presente com o evento passado que é lembrado?
Destas duas questões, só a primeira interessa ao psicólogo; a segunda pertence à teoria do conhecimento. Porém, Russell, concentrar-se-á no problema puramente psicológico da memória.
Entre a imagem mnemônica e a sensação existe uma experiência intermediária referente ao passado imediato. Por exemplo, um som que acabamos de ouvir está presente em nós de uma forma que difere tanto da sensação, enquanto estamos ouvindo o som, como da imagem mnemônica de algo ouvido há dias ou semanas. James afirma que é esta maneira de aprender o passado imediato que é “o original da nossa experiência do caráter do que é passado, donde obtemos o sentido do termo” . Todos conhecem a experiência de notar (digamos) que o relógio bate as horas e não notamos enquanto estava batendo. A retenção do passado imediato numa condição intermediária entre a sensação e a imagem pode ser chamada “memória imediata”. Tudo o que lhe pertence está incluído com a sensação no que se chama o “presente especioso”, que inclui elementos em todas as fases do caminho entre a sensação e a imagem. É tal fato que nos possibilita apreender coisas como os movimentos, ou a ordem das palavras numa frase falada. A sucessão pode ocorrer dentro do presente especioso, do qual podemos distinguir algumas partes como anteriores e outras como posteriores. É de supor que as primeiras são as que perderam mais do seu vigor original, enquanto as últimas são as que retêm todo o seu caráter sensorial. No principio de um estimulo temos uma sensação; depois uma transição gradual; e, por fim, uma imagem. Segundo Semom , as sensações, chamam-se “acolúticas” enquanto se estão desvanecendo.
Portanto, a verdadeira memória, comparada com a “memória imediata”, aplica-se somente aos eventos suficientemente distantes de modo a terminar o período de desvanecimento. Tais eventos, se forem representados por alguma coisa presente, só podem ser representados por imagens, não pelas etapas intermediárias entre as sensações e as imagens, que ocorrem durante o período de desvanecimento.
A memória intermediária é importante tanto por fornecer a experiência da sensação, como por preencher a lacuna entre as sensações e as imagens que são as suas cópias. Mas já é tempo de passarmos à consideração da verdadeira memória.
Suponhamos que alguém me pergunte o que comi ao café esta manhã. Suponha-se, além disso, que não pensei no meu café neste meio tempo, e que, enquanto comia, não pus em palavras as coisas em que consistia. Neste caso, a minha lembrança será verdadeira memória, não memória-hábito. O processo de lembrar consistirá em evocar as imagens do meu café, que virão a mim com um sentimento de crença, como a que distingue as imagens mnemônicas das imagens fantasias. Ou algumas vezes as palavras poderão vir sem o intermédio das imagens, mas neste caso a impressão de crença é igualmente essencial.
Para Russell, as imagens são realmente memória-hábito, sendo as lembranças que carregam imagens as típicas lembranças verdadeiras.
As imagens mnemônicas e as imagens fantasias não diferem, mas suas qualidades intrínsecas, tanto quanto podemos verificar. Diferem pelo fato de que as imagens que constituem as lembranças, diferentemente das que constituem a imaginação, são acompanhadas de um sentimento de crença que pode ser expresso pelas palavras: “Isto aconteceu”. A mera ocorrência de imagens, sem este sentimento de crença, constitui a imaginação; é o elemento de crença que é distintivo da memória
Há, segundo Russell, pelo menos três diferentes espécies de sentimento de crença, a que podemos chamar, respectivamente, lembrança, expectativa e puro assentimento. Não há elemento temporal no assentimento de crença, embora possa haver no conteúdo de que é acreditado. Na lembrança, o passado fica não no conteúdo do que é crido, mas na natureza do sentimento de crença. Russell deseja deixar bem claro, que certa categoria especial de crença é a característica distintiva da lembrança; e, que o problema quanto a se a memória pode ser explicada como o hábito ou associação requer que seja considerado de novo em relação com as causas do nosso ato de lembrar algo, como por exemplo, o caso de me perguntarem o que comi ao café, esta manhã.
A nossa compreensão das palavras “café esta manhã” é um habito, apesar do fato de que cada dia que nasce elas designam uma ocasião diferente. “Esta manhã” não significa, sempre que usada, a mesma coisa que “João” ou a Catedral de São Paulo; significa um período diferente de tempo cada dia diferente. Segue-se que o hábito que constitui a nossa compreensão das palavras “esta manhã” não é o hábito de associar palavras com um objeto determinado, mas o hábito de associá-las com algo que tem uma relação temporal definida com o nosso presente. Esta manhã tem, hoje, a mesma relação temporal com o meu presente que ontem de manhã teve ontem. A apreciação dos intervalos temporais é, porém, obviamente um produto da memória, não uma pressuposição dela.
Tomando outro caso, que não seja sobre “esta manhã”, ou seja, de entrar num ambiente bem conhecido onde algo foi mudado – digamos, um novo quadro na parede. Se o ambiente tivesse permanecido imutável, podíamos apenas ter tido o sentimento de familiaridade sem a lembrança definida. Se a imagem está associada com o sentimento de crença que descobrimos ser distintivo da lembrança, dado que não pode ser abolida nem harmonizada com a percepção, concluiremos que é a mudança que nos conduz do presente à lembrança do passado. Este algo ausente apresenta-se a nós como uma imagem, e é contrastado com uma sensação presente. Em casos desta espécie, o hábito (ou associação) explica por que o aspecto presente do ambiente nos traz a imagem mnemônica, mas não explica a crença-memória. Ficaremos, portanto, por agora, com o fato de que a imagem mnemônica pode ser explicada pelo hábito; e, quanto á crença-memória, devemos, pelo menos provisoriamente, aceitar a opinião de Bérgson de que não pode ser tratada a título de hábito, pelo menos quando ocorre pela primeira vez, isto é, quando lembramos algo que nunca tínhamos lembrado antes.
Numa consideração mais aprofundada da crença-memória, Russell, coloca-nos que a crença-memória confere à imagem-memória algo que podermos chamar “sentido”; faz-nos sentir que a imagem designa um objeto que existiu no passado. A fim de tratar este tópico, devemos considerar a expressão verbal da crença-memória.
Uma palavra sempre se explica, não só a um particular, mas a um grupo de particulares associados, que não são como múltiplo no pensamento ou fala comuns. Assim reconhecidos a lembrança primitiva, quando julga que “isto ocorreu”, é vaga, mas não falsa.
A identidade vaga, que é na realidade semelhança estreita, tem sido frente de muitas confusões de que a filosofia tem vivido. Portanto, a interpretação de Bérgson do presente pelo passado, e a continuidade e a identidade-na-diversidade hegeliana, e uma legião de outras noções são consideradas pro fundadas, por que obscuras e confusas. As contradições resultantes da confusão de imagens e protótipo na memória forçam-nos ao rigor. Mas quando nos tornamos rigorosos, o nosso lembrar torna-se diferente do lembrar-se da vida cotidiana; e, se esquecemos isto, estaremos enganados na análise da memória comum.
Para Russell, todo o pensar é vago até certo ponto, e o rigor completo é um ideal teórico praticamente inatingível. Podemos dizer em geral que um instrumento é preciso na proporção em que reage diferentemente a estímulos muito levemente diferentes. Quando requer diferença de estimulo produz diferença grande de reação, o instrumento é preciso, em caso contrário, não é.
Exatamente a mesma coisa se aplica ao definir rigor de pensamento ou percepção. O rigor da reação a qualquer espécie de estimulo aperfeiçoa-se com a prática. A compreensão de uma língua é um exemplo perfeito deste fenômeno.
A precisão e a imprecisão no pensamento, como na percepção, dependem do grau de diferença entre as respostas e estímulos mais ou menos semelhantes. No caso do pensamento, a resposta não segue imediatamente o estimulo sensorial, mas isso não tem importância para a nossa presente questão. Assim, voltando à memória: uma lembrança é “vaga” quando é apropriada a muitas ocorrências diferentes; por exemplo, “encontrei um homem” é vaga, dado que qualquer pessoa verificaria isto. Uma lembrança é “precisa” quando as ocorrências que a verificaram estão estreitamente circunscritas; por exemplo, “encontrei Jones” é precisa, quando comparada a “encontrei um homem”. Uma lembrança é rigorosa quando é ao mesmo tempo precisa e verdadeira. Palavras vagas procedem a juízos de identidade e diferença: tanto palavras gerais como particulares são subseqüentes a esses juízos. A palavra “isto” na crença mnemônica primitiva é vaga, não uma palavra geral; abrange tanto a imagem como o seu protótipo, para que os dois não se distinguem.
As imagens são “meramente imaginárias”, elas não têm, em pensamento vulgar, a espécie de realidade que pertence aos corpos exteriores. Em sentido lato, coisas “reais” seriam aquelas que podem causar sensações, aquelas que têm correlações com as que constituem os objetos físicos.
A impressão de realidade é afim a respeito: pertence, sobretudo a tudo a que as coisas possam nos fazer sem a nossa cooperação voluntária. Este sentimento de realidade, relacionado com imagem mnemônica, e relacionado ao passado pela espécie especifica de sentimento-crença, que é característica da memória, parece ser o que constitui o ato de lembrar na sua forma pura.
Podemos agora resumir a nossa análise da memória pura.
A memória implica (a) uma imagem; (b) uma crença na existência passada. A crença pode ser expressa pelas palavras “isto existiu”.
A crença como qualquer outra, pode ser analisada (a) ato de acreditar; (b) o que é acreditado. O ato de acreditar é um sentimento ou sensação específico, ou um complexo de sensações, diferentes da expectativa ou de um assentimento puro de modo a que a crença se refira ao passado; a referência ao passado jaz no sentimento-crença, não no conteúdo crido. Há uma relação entre o sentimento-crença e conteúdo, fazendo com que o sentimento-crença se refira ao conteúdo, e seja expresso ao dizer-se que o conteúdo é o que é crido (podendo ou não ser expresso por palavras). Este conteúdo não contem em si mesmo qualquer determinação temporal: a determinação temporal reside na natureza do sentimento-crença, que se chama “o lembrar” ou (melhor) “o recordar”. Somente a reflexão subseqüente sobre esta referência ao passado faz-nos apreender a distinção entre a imagem e o evento recordado. Quando tivermos feito esta distinção, podemos dizer que a imagem “significa” o evento passado.
O conteúdo expresso por palavras fica mais bem representado pelas palavras “a existência disto”, dado que estas palavras não implicam tempo verbal, que pertencem ao sentimento-crença, não ao conteúdo. No caso, “isto” é uma expressão vaga, abrangendo a imagem mnemônica e qualquer coisa muito parecida com ela, inclusive seu protótipo. “Existência” exprime o sentimento de uma “realidade” suscitada principalmente por qualquer coisa que possa ter efeitos sobre nós sem a nossa cooperação voluntária. A palavra “de” na expressão “a existência de isto” representa a relação que subsiste entre o sentimento de realidade e o “isto”.
Esta análise de memória desenvolvida na perspectiva Russelliana, é provavelmente extremamente defeituosa, mas segundo ele, não sabe como aperfeiçoá-la.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir, que Russell, ao investigar o ideal central incorporado na palavra “experiência”, onde devemos estar realizando ao mesmo tempo a análise requerida para a definição de “mente” e “mental”; define a mente como sendo o que conhecemos desde o interior – pensamento, sentimentos evolições – enquanto a matéria é o que está no espaço exterior as nossas mentes. Considera nossa vida mental como amplamente constituída de crenças, e do que nos contentamos em chamar “conhecimento” de “fatos”. Quando Russell, fala de um “fato”, significa a espécie de coisa que se expressa pela frase “aquela tal e tal coisa é o caso”. Um “fato” neste sentido é alguma coisa diferente de uma coisa sensível existente; é a espécie de objetos com relação à qual temos uma crença, expressa numa proposição.
Coloca-nos da necessidade de considerações da Psicologia da memória, antes de discutirmos a questão de que: Experienciamos agora coisas passadas de que nos lembramos? Para isso, em primeiro lugar, não devemos confundir a verdadeira memória com as imagens presentes de coisas passadas. Podemos chamar agora para diante de nossa mente uma imagem de um homem que vi (mos) ontem: a imagem não está no passado, e certamente a experienciamos agora, mas a própria imagem não é memória. A lembrança refere-se a alguma coisa que se sabe estar no passado, ao que vi ontem, não à imagem que chamo (amos) agora. Mas mesmo quando a imagem presente foi posta de lado como irrelevante, permanece ainda uma distinção entre o que se pode chamar memória “intelectual” e o que pode chamar memória “sensitiva”. Quando sei simplesmente “que vi Jones ontem”, isso é a memória intelectual, meu (nosso) conhecimento é (são) de um desses “fatos primitivos” que consideramos no parágrafo precedente. Mas na memória imediata de algumas coisas que acaba de acontecer, a própria coisa parece permanecer na experiência, apesar do fato de se saber que ela não mais está presente.
A conclusão de que as coisas passadas são experienciadas na memória pode ser reforçada considerando-se a diferença entre passado e futuro (é essencialmente aquele período de tempo em que o presente será passado). “Presente” e “passado” são dados na experiência, e o “futuro” é definido em termos deles. A diferença entre passado e futuro, desde o ponto de vista da teoria do conhecimento, consiste exatamente no fato de que o passado é uma parte experienciado agora, enquanto o futuro ainda reside totalmente fora da experiência.
É óbvio que a memória é o que nos faz chamar as experiências passadas de “nossas”. Russell, não quer dizer que somente aquelas experiências das quais agora nos lembramos sejam consideradas como nossas, mas que a memória sempre produz os elos que ligam nosso presente com o nosso passado. Contudo não é a memória por se (em si) que faz isto: é a memória de uma certa espécie. Se lembrarmos simplesmente de algum objeto externo, a experiência está no presente, e ainda não existe nenhuma razão para assumir a experiência passada. Normalmente, quando lembramos um evento, lembramos também nossa experiência dele, mas as duas são memórias diferentes, como por exemplo, pelo caso das batidas do relógio. A memória que prolonga nossa personalidade recuando-a no tempo é a memória de nossa experiência, não simplesmente das coisas que experienciávamos. Por extensão da experiência presente numa série de experiências ligadas pela memória, incluímos em nossa própria experiência total todos os particulares que se sabe terem existido, embora não tomem parte da experiência presente; e no caso de que o tempo continuasse além do momento presente, incluiríamos também aquelas experiências futuras que estarão relacionadas com nosso presente como nosso presente está relacionado com o nosso passado.
Segundo Russell, em lógica e conhecimento “uma mente é um complexo organizado de modo a agir desejavelmente ou interessadamente”; e, em análise da Matéria a subjetividade cerebral (ou Psicológica) origina-se como um resultado das experiências passadas. Um exemplo óbvio “é uma sensação que parece estar numa perna amputada somos suscetíveis a este tipo de erro sempre que duas coisas comumente associadas são por alguma razão dissociada”.
Quando uma sensação é seguida de imagem que é “cópia” dela, Russell pensa que se pode dizer que a existência da imagem constitui a consciência da sensação, contanto que seja acompanhada dessa espécie de crença que, quando refletimos nela, faz-nos sentir que a imagem é o “signo” de algo que não seja ela mesma. Esta é a espécie de crença que no caso da memória, nos expressa nas palavras “isto ocorreu”, ou que, no caso de um juízo de percepção, nos faz crer nas qualidades correlacionadas com as sensações atuais, como, por exemplo, as qualidades táteis e visuais estão correlacionadas. Portanto, a crença deve ser a que constitui referência objetiva, passada ou presente; e, como a memória é falível, uma dificuldade, por exemplo, se procurarmos tocar uma reflexão no espelho, sob a impressão que é “real”, surge quando à consciência de objetos passados. Russell propõe-nos que a única maneira de evitar esta dificuldade é adicionar à nossa (dele) definição a cláusula de que as crenças evolutivas na consciência devem ser verdadeiras.
Numa segunda questão, quanto ao fato de podermos estar consciente/ com conhecimento das imagens, poderá haver duas imagens do mesmo protótipo, de tal maneira que uma delas significa a outra em vez de significar o protótipo. Quando as associações são ativas a imagem significa uma imagem, em vez de significar o seu protótipo.
Verificamos que a “consciência” é demasiado limitada para caracterizar os fenômenos mentais, e que a causação mnêmica é demasiada ampla, e que levou a Russell, a analisar uma característica que, embora difícil de definir, aproximam-se muito mais do que exigimos, refere-se à subjetividade, cujas conclusões como características dos fenômenos mentais, foram consideradas por Russell, na Conferência VII, em conexão com a definição de percepção: que os particulares que constituem o mundo físico podem ser reunidos em conjuntos, de duas maneiras: uma das quais faz um feixe de todos os particulares que são aparências de determinada coisa vista de diferentes lugares, ao passo que a outra faz um feixe de todos os particulares que são aparência de diferentes coisas vistas de um determinado lugar. Um feixe desta segunda espécie, num momento determinado, chama-se “perspectiva”, tomado através de um período de tempo, chama-se “biografia”. Portanto, a subjetividade é a característica das perspectivas e das biografias, a característica de dar a visão do mundo a partir de certo lugar.
Russell, afirma-nos na Conferência VII, que a definição de percepção, que os dados da Psicologia não diferem, no seu caráter intrínseco, dos dados da física. Que as sensações são igualmente dadas para a Psicologia e para a física, enquanto as imagens, que poderão, em certo sentido, serem exclusivamente dados psicológicos, só podem distinguir-se das sensações por meio das suas correlações, não pelo que são em si mesmas, cujos objetos existentes ficamos certos através da percepção são considerados “dados”. Para Russell, refere-se às coisas que, quando uma crença esta presume um observador treinado, com atenção anática, que conheça a coisa que se deve procurar, e a coisa que será importante, ou seja, os dados de uma ciência se mostram capazes de proporcionar bases para outras fontes da ciência, sem que elas mesmas sejam cridas em qualquer base que não seja a observação. Contudo, uma vez que foi observada, a crença nele não está baseada na inferência ou no raciocínio, mas simplesmente no fato de ter sido visto. Desta maneira o seu status lógico difere da das teorias que são privadas pelos seus meios.
As conclusões que podemos chegar de Russell, podem ser resumido da seguinte maneira:
I – A física e a psicologia não se distinguem pelo seu objeto. Mente e matéria são igualmente construções lógicas; os particulares de que são construídos, ou de que são inferidas, têm várias relações, algumas das quais são estudadas pela física e outras pela psicologia. Em sentido lato, a física agrupa os particulares pelos seus lugares ativos: a psicologia, pelos seus lugares passivos.
II – As duas características essenciais das leis causais que naturalmente seriam chamadas psicológicas são a subjetividade e a causação mnêmica; não estão desconexas, dado que a unidade causal na causação mnêmica é o grupo de particulares que têm dado lugar passivo em dado momento, e é esta maneira de agrupamento que a subjetividade é definida.
III – Hábito, memória e pensamento são todos fatos de causação mnêmica. É provável, embora não seja certa, que a causação mnêmica seja decorrente da causação física comum no tecido nervoso (e noutros).
IV – Consciência são uma característica complexa e de forma alguma característica universal dos fenômenos mentais.
V – Mente é uma questão de grau, principalmente exemplificada no número e complexidade dos hábitos.
VI – Todos os nossos dados, tanto na física como na psicologia, estão sujeitos a leis causais psicológicas; mas as leis causais físicas, pelo menos na física tradicional, só podem ser enunciadas em termos de matéria, que é não só inferida, mas também construída, nunca um dado. A este respeito, a psicologia está mais próxima de que realmente existe.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
RUSSELL, Bertrand. Conferência IX – Memória. In: A análise da Mente. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. Pp. 118-140.