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Filosofia da mente

Segundo TEIXEIRA (2009) a ciência cognitiva consolidou-se ao longo das décadas de sessenta e setenta, tendo como proposta o estudo do funcionamento mental através de modelos computacionais. Ela se cruza com outras disciplinas igualmente jovens, a inteligência artificial (que apostou numa proposta metodológica inovadora, qual seja, a idéia de que simular é explicar) e a filosofia da mente (a simulação é a tentativa de replicação do modo como os seres humanos executam tarefas inteligentes), cujos pesquisadores rapidamente perceberam estar diante de uma tarefa interdisciplinar, que teria de se valer dos recursos da psicologia, da lingüística, da ciência da computação e das neurociências – enfim, tudo que pudesse contribuir para o estudo do funcionamento da mente. Ao contrário do saber filosófico tradicional, que é o da natureza do mental, a filosofia da mente, mistura análise conceitual com resultados empíricos. Isso a torna uma disciplina relativamente, jovem, que completa pouco mais de cinco décadas de existência, a partir de formas cruas de materialismo defendidas pelos filósofos australianos Smart, Place e Armstrong de um lado, e de outro, pelos filósofos defensores do dualismo entre mente e matéria, sendo o principal deles o australiano David Chalmers, que nos fala de um dualismo naturalista por entender que a experiência consciente deve ser considerada como sendo uma característica fundamental do mundo, do mesmo jeito que massa, carga eletromagnética e espaço-tempo o são. Sobre a neurociência se acumularam suas apostas futuras na comprovação de que nossa vida mental seria apenas uma manifestação do metabolismo cerebral, pois para eles estados mentais seriam idênticos a estados cerebrais, tornando-se para os neurocientistas uma disputa, a primazia por resolver este problema, essencialmente empírico, esvaziando suas nuances e sutilezas conceituais para tratá-lo como objeto de ciência. Sua preocupação central manteve-se em torno do chamado problema mente-cérebro, ou seja, saber se o mental é um produto do cérebro ou se este é apenas o hospedeiro biológico da mente. Assim, segundo TEIXEIRA (2008) “o problema mente-cérebro, nasce de uma inquietação cotidiana que atinge a todos nós. A percepção popular do mundo – povoado por objetos físicos visíveis – que não deixa nenhum lugar para situarmos o mental. A Filosofia da Mente parece colocar-nos diante de uma aflição metafísica perene. Pois se o mundo perceptível é falso, como ensina a ciência, porque continuamos a acreditar nele a ponto de nos angustiarmos por não sabermos onde situar o pensamento? O importante hoje é podermos assistir novamente, o neurobiólogo se sentar ao lado do filósofo para discutir a natureza da mente e da consciência.”

Partindo deste cenário, passaremos as considerações de modo sintético, a partir dos oitos textos desenvolvidos nos módulos do programa de Doutorado do Instituto Packter em Filosofia da Mente, sob a orientação da Profª Titular Mariluze Ferreira Andrade e Silva, procurando explicitar sobre a Filosofia da Mente, em enfoques dos vários filósofos da mente, objetivando investigar as contribuições dadas pela biologia e pela neurociência à Filosofia da Mente para o entendimento da relação corpo-alma-mente, enfocando a condição humana em situações existenciais de seus mundos possíveis.

No primeiro módulo desenvolvido no artigo, Como o Cérebro Visual pode interferir nas condições humanas? , o farmacologista Philippe Meyer, professor de Filosofia e História das Ciências na Faculdade de Medicina Necker, em Paris, com a citação: “A Biofilosofia consiste simplesmente em considerar a biologia moderna para meditar sobre as grandes incógnitas da condição humana” (Philippe Meyer) , procura ao se deter especificamente sobre a capacidade de olhar o mundo, propor elos entre a física e a psicologia, oferece-nos uma leitura desafiadora para neurobiólogos e filósofos, enfocando questões como o pensamento, a memória e a linguagem. O autor considera a biologia moderna essencial para meditar sobre as grandes incógnitas da condição humana, entre elas a capacidade do conhecimento daquilo que chamamos de realidade – cuja varias maneiras de como enxergá-la (o) (o mundo que nos cerca), o objeto em si mesmo e aquilo que nós vemos, existe uma imensa distância, motivada pela complexidade dos níveis neuronais e moleculares, o cérebro visual, que procede a interferências nas condições humanas, em parte conhecidas pela psicofisiologia e pela neurobiologia, e também por variações psicológicas e filosóficas, que propiciam reflexões sobre os resultados dessas pesquisas desenvolvidas pela Biologia moderna e a neurociência apontada, que é possível compreender que as representações dos mundos possíveis de uma pessoa, dependem, em parte pelo cérebro visual; diante a complexidade do objeto, ilustrado pelo cérebro humano (particularmente pelo cérebro visual), cujo mecanismo pode achar-se além das capacidades máximas de apreensão, diversificada, que a imagem mental dos objetos que nos cercam seja a mesma para todos os homens e que uma visão objetiva do universo tenha um sentido; e, que o cérebro dos homens imponha à realidade conceitos que não tenham nenhuma relação com ela. Expressa então o seu desejo de difusão dos estudos de biofilosofia, moderna área de conhecimento voltada para o relacionamento das ciências humanas e sociais, com as clínicas neurológicas, psicológicas e filosóficas (Filosofia Clínica), estimulando o diálogo entre as ciências biológicas, exatas e humanas. Nessa perspectiva, tópicos como a relação entre o cérebro e a matéria, a fenomenologia da percepção das cores, os elos entre a visão inconsciente e subconsciente e as flutuações fenotípicas (ou seja, individuais, que nascem ao mesmo tempo de diferenças superficiais do programa genético comum e de influências adquiridas, ligadas ao meio e à aprendizagem) da percepção sensível, são objeto de reflexão, sempre numa óptica em que o raciocínio filosófico e materialidade físico-química da linguagem neuronal caminham lado a lado, tanto no processo de análise/pesquisa, na intervenção do cérebro visual nas condições humanas, como no posicionamento do individuo na interpretação de seu contexto histórico-cultural.

No segundo modulo desenvolvido no artigo O problema mente-corpo nos processos físicos e de conhecimento do mundo, Thomas Nagel, catedrático de filosofia e direito na Universidade de Nova York, com a afirmação “A Ciência física avançou deixando a mente de fora daquilo que tenta explicar, mas pode ser que haja mais sobre o mundo de que a ciência física é capaz de entender” (Thomas Nagel) , propõe argumentações do processo mente-corpo, de maneira a observar a relação do ser (subjetivo) e o mundo real possíveis.

NAGEL, no capítulo 4. O PROBLEMA MENTE-CORPO questiona-nos sobre a relação mente-corpo. Qual pode ser a relação entre a consciência e o cérebro? Coloca-nos, que todos sabem que o que acontece na consciência depende do que acontece ao corpo. Exemplo: Se você der uma topada com o dedo do pé, ele irá doer. Ao que tudo indica, para que alguma coisa aconteça em sua mente ou consciência, é preciso que algo aconteça no seu cérebro – alguma coisa que envolva alterações químicas e elétricas nos bilhões de células nervosas que compõem o seu cérebro. Para NAGEL, parece haver dois tipos muito distintos de coisas que acontecem no mundo: as coisas que pertencem à realidade física, que muitas pessoas podem observar de fora, e as coisas que pertencem à realidade mental, que cada um de nós experimenta interna e individualmente.

Podemos concluir, quanto à questão sobre os posicionamentos de NAGEL: a) um processo mental não pode ser analisado em partes menores a exemplo dos processos físicos; não podemos concordar totalmente com o posicionamento de NAGEL, pois, percebemos hoje, que com os estudos da Biofilosofia, apresentado pelo farmacologista Philippe Mayer, enfocando questões como o pensamento, a memória e a linguagem, o autor considera a Biologia moderna essencial para meditar as grandes incógnitas da condição humana, numa perspectiva de conhecimentos voltados para o relacionamento das ciências humanas e sociais, com as clínicas neurológicas, psicológicas e filosóficas (Filosofia Clinica), estimulando o diálogo entre as ciências biológicas, exatas e humanas, propiciando elementos, que NAGEL, solicitava da Ciência, na década de 70. Levando-nos a considerar que o processo mental pode ser analisado no conjunto do Sistema Nervoso, num processo particularizado na detecção de sintomas neurológicos.

Quanto à questão: b) “Não é possível somar partes físicas para obter um todo mental”, temos que considerar que nesse posicionamento, NAGEL, limitou-se em suas argumentações, na observação experienciais de saborear o chocolate, onde foi de fato, apenas um processo cerebral. Teríamos de analisar alguma coisa mental – não uma substância física observável externamente, mas uma sensação de sabor interna – em termos das partes físicas. Uma característica essencial desse tipo de análise é que não se trata de uma decomposição química do modo como vemos, sentimos e saboreamos água/chocolate. Essas coisas acontecem na nossa experiência interna, não da água/chocolate que foi decomposta em átomos. A análise física ou química da água /chocolate desconsidera essas experiências. E, por mais complexas e numerosas que sejam as ocorrências físicas no cérebro, elas não poderiam ser as partes que compõem a sensação do gosto.

No terceiro modulo desenvolvido no artigo Mudanças biológicas corporais a partir da concepção mental do sujeito, Thomas Nagel com a citação: “Se acreditamos que uma verdadeira concepção do mundo mental, por mais objetividade que ela alcance, deve admitir a natureza irredutivelmente subjetiva da mente, ainda nos falta encaixar a mente no mesmo universo em que se encontra esse mundo físico que pode ser descrito de acordo com a concepção física de objetividade. Nossos corpos, e particularmente nosso sistema nervoso central, pertencem a esse mundo físico, assim como os corpos de todos os outros organismos capazes de atividade mental. Temos razão para crer que existe uma ligação muito estreitamente a vida mental e o corpo e que nenhum evento mental pode ocorrer sem que se produza uma mudança física no corpo – no caso dos vertebrados no cérebro – de seu sujeito”. (Thomas NAGEL) , retoma de modo mais aprofundado, seus questionamentos levantados sobre a teoria do aspecto dual (concepção de que o cérebro é a sede da consciência) a de que a vida mental ocorre no cérebro, ainda que todas as experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não sejam processos físicos do cérebro, envolvendo várias alterações químicas e elétricas, e um aspecto mental – a experiência do sabor do chocolate; e, propõe argumentações do processo mente-corpo, de maneira a observar a relação do ser (subjetivo) e o mundo real possíveis. Procura na perspectiva da Filosofia da Mente, tratar de um único problema: Como combinar a perspectiva de uma pessoa particular, inserida no mundo, com uma visão objetiva desse mesmo mundo, em que a própria pessoa e seu ponto de vista estão inclusos. Esse é problema que enfrenta toda criatura com o impulso e a capacidade de transcender seu ponto de vista particular e conceber o mundo como um todo. Trata-se da questão mais fundamental com respeito à moral, ao conhecimento, à liberdade, ao eu e à relação da mente com o mundo físico; cuja forma apropriada de objetividade, bem como seus limites, no que tange a uma série de questões; como também indicará os aspectos em que os dois pontos de vista não encontram uma integração satisfatória, acreditando que nesses casos o caminho correto não é conceder vitória a algum deles, mas ter clara em nossa mente à oposição entre ambos, sem excluir nenhum elemento. Concentra sua discussão, e especulações em quatro tópicos: a metafísica da mente, a teoria do conhecimento, a liberdade humana e a ética. Preocupa-se em examinar a atitude adequada perante as diferentes formas de ceticismo, visto que não podemos descartá-los sob a alegação de serem absurdas sem adotarmos análises da verdade, da liberdade e do valor que não sejam reducionistas e espúrias. Dedica-se maior atenção no limite da objetividade, que decorre diretamente do processo de afastamento gradual por meio do qual a objetividade é alcançada. Acredita já estar claro, que qualquer teoria correta da relação entre mente e corpo, alteraria radicalmente nossa concepção geral do mundo e exigiria uma nova compreensão dos fenômenos hoje considerados físicos. Porém, mesmo que as manifestações da mente que nos são evidentes sejam locais – dependem de nosso cérebro e de estruturas orgânicas similares -, a base geral desse aspecto da realidade não é local, devendo-se presumir que seja inerente aos elementos gerais que constituem o universo e às leis que os governam. Afirma que precisamos ter: uma teoria que conceba os organismos conscientes como sistemas físicos compostos de elementos químicos, que ocupem lugar no espaço e tenha também em perspectiva individual do mundo e, em alguns casos, capacidade de autoconsciência.

Finalmente, retomando ao problema mente-corpo numa concepção mais ampla, NAGEL; faz uma analogia a conclusões sobre o eu, aplica-se as relações entre os eventos mentais e o cérebro em geral. Embora o conceito de evento mental indique que se trata de algo irredutivelmente subjetivo, permanece a possibilidade de que seja também algo físico, pois o conceito não nos revela tudo sobre ele.

Portanto, podemos concluir com NAGEL, que uma visão ou forma de pensar é tanto mais objetiva – do que outra quanto menos depende dos aspectos específicos da constituição do individuo de sua posição no mundo ou do caráter do tipo particular de criatura que ela é. Uma forma de conhecer será tanto mais objetiva quanto menos ela dependa das capacidades subjetivas especificas. Podemos pensar na realidade como um conjunto de esferas concêntricas que se revelam progressivamente á medida que aos poucos nos afastamos das contingências do eu. Podemos aumentar nosso conhecimento do mundo acumulando informações que se encontram num determinado nível – pela observação extensiva a partir de certo ponto de vista e formarmos uma nova concepção que inclua uma apreensão mais imparcial de nós mesmos, do mundo e da nossa interação com ele.

No quarto modulo desenvolvido no artigo O eu objetivo: a identidade essencial versus acidental da subjetividade particular do sujeito num mundo sem centro em situações de mundos possíveis, Thomas Nagel, com a citação: “Há um problema crucial da subjetividade, que persiste mesmo depois de admitirmos que os pontos de vistas e as experiências subjetivas fazem parte do mundo real – mesmo depois de reconhecermos que o mundo é cheio de pessoas dotadas de mentes, com pensamentos, sentimentos e percepções que não podem ser totalmente submetidos à concepção física de objetividade. Essa admissão geral deixa-nos ainda com um problema por resolver, o da subjetividade particular. O mundo assim concebido, embora extremamente variado quanto aos tipos de coisas e perspectivas que contém, continua desprovido de centro. Ele contém todos nós, e nenhum de nós ocupamos uma posição metafisicamente privilegiada. Cada um de nós, no entanto, ao refletir sobre este mundo sem centro deve admitir que um fato muito amplo pareça ter sido omitido de sua descrição: o fato de que uma determinada pessoa nele é ela mesma”. (Thomas NAGEL) , abordar em duas partes, a relação entre os pontos de vista subjetivos e objetivos, do fato de uma determinada pessoa ser ela mesma (particular) num mundo sem centro, ponto de vista específico, em situações possíveis com todos os seres humanos contextualizados em relações com outros seres, num primeiro momento, procurando responder a pergunta: Como é possível que uma determinada pessoa seja ela mesma no todo? na busca de algo absolutamente essencial ainda não especificada, a saber, quais dessas pessoas são/somos. Por outro lado, porém, parece não haver lugar, nesse mundo sem centro, por um fato adicional: o mundo visto assim de nenhum ponto de vista parece de tal forma completo que exclui esses acréscimos; este é o mundo simplesmente, e toda a verdade sobre a pessoa (eu) /nós, já esta nele. A segunda parte da pergunta talvez nos seja menos familiar: Como é possível que eu/nós seja (mos) meramente certa pessoa? NAGEL, procura apresentar uma solução ao problema, de como é que-posso ser/sermos algo tão especifico como uma determinada pessoa no mundo – qualquer pessoa. Concluindo, que a primeira pergunta surge da aparente totalidade de uma descrição do eu/nós; e do mundo que não diz se ele é eu/nós ou não, enquanto a segunda questão surge de algo relacionado com a idéia de “eu” / “nós”. O sentido desses enunciados requer apenas que o mundo contenha pessoas comuns, como Eu/nós, que usem a primeira pessoa de forma usual. Seu sentido não é igual ao dos enunciados em terceira pessoa que expressam suas condições de verdade, já que sua verdade depende de quem os faz. Não podem ser substituídos por análises feitas na terceira pessoa.
NAGEL, buscando, requerer modificações em sua primeira descrição do problema, evocado vagamente sobre o “verdadeiro” eu e sua essência, argumentou no capitulo Mente-Corpo, que não podemos descobrir nossa natureza essencial a priori – que ela pode incluir atributos que não estão contidos em nossa concepção de nós mesmos; mas, no entanto, demonstra, que algo essencial nele/ na pessoa não tem nada a ver com sua/da pessoa perspectiva e posição no mundo. O eu objetivo que encontro ao ver o mundo através da pessoa (nome) não é singular: cada um de nós tem um, ou seja, cada um é um, pois o eu objetivo não é uma entidade distinta. Cada um de nós, então, além de ser uma pessoa comum, é um eu objetivo particular, o sujeito de uma concepção de realidade desprovida de perspectiva. A pessoa esta contida no mundo, e nenhuma delas é seu centro ou ponto focal. Assim, sou ao mesmo tempo o foco lógico de uma concepção objetiva do mundo e um ser particular nesse mundo que não ocupa qualquer posição central, explicando como o pensamento “eu sou eu (pessoa), pode ter um conteúdo não trivial e, de fato, quase tão notável quanto parece de inicio, mesmo não traduzindo o pensamento em um acerca do mundo concebido objetivamente, ele identifica um fato objetivo que corresponde ao pensamento e explica como este pode ter um conteúdo interessante o bastante para dar conta de seu “saber filosófico”, já que a concepção objetiva tem um sujeito, a possibilidade que ele esteja presente no mundo existente, e é o que permite NAGEL e nós, unirmos as visões objetivas e subjetivas, onde o “eu” deve ser a referência em virtude de algo maior cuja inclusão no mundo não é óbvia, e o eu objetivo qualifica-se para esse papel.

Portanto, podemos concluir, que a mente humana se revela muito mais ampla de que precisaria ser para simplesmente acomodar a perspectiva de um perceptor e agente humano individual dentro do mundo. Ela não apenas pode conceber uma realidade mais objetiva como pode ampliá-la numa sucessão de etapas objetivas que já levaram muito além das aparências. E permite que diferentes indivíduos e partindo de pontos de vistas divergentes, convirjam para concepções que podem ser universalmente partilhadas.

No quinto modulo desenvolvido no artigo Filosofia da mente e as bases biológicas da psicologia: um vínculo necessário nas pesquisas e compreensão do difícil problema do suporte material do espírito humano (corpo e cérebro) na perspectiva edelmaniana, Gerald M. Edelman , Prêmio Nobel de Medicina em 1972, expõs no livro Second Nature, publicado em 2006, é que o funcionamento do cérebro humano está em aberto desde o nascimento da criança, e não opera segundo um roteiro predefinido, com a citação: “A prática de ignorar a biologia quando se pensa nos assuntos da mente e no modo como o conhecimento é adquirido, sem fazer referência à biologia, tem uma história. Em grande medida, a filosofia da mente tem prosseguido as suas pesquisas sem se preocupar (a não ser de forma anedótica) com o corpo ou o cérebro” (EDELMAN, Gerald M.) , explicitado no capítulo IV – As Bases Biológicas da Psicologia, objetiva demonstrar, que a condição mínima para a existência do espírito é um tipo especifico de morfologia, de modo a analisar as formas mais gerais a ligação entre a Psicologia e a Biologia, falando em parte por considerar que os filósofos foram induzidos em erro ao avançarem à margem da biologia. Evidencia como sendo necessário ao conhecimento, para se compreender a “matéria” do espírito, dado o caráter único da consciência e a incapacidade do raciocínio para “perscrutar” os seus próprios mecanismos. Procura explicitar aspectos científicos e opiniões próprias da neurociência no limiar do conhecimento de forma como conhecemos, querendo levar o leitor a tomar conhecimento de algumas teses clássicas a respeito do espírito. Descreve-nos uma teoria Biológica (da Psicologia) de forma como conseguimos ser possuidores do espírito, ocupando-se de organização da matéria subjacente ao nosso espírito – os neurônios, as suas ligações e os seus padrões. Questiona-nos sobre: Que significa ter espírito, estar ciente de, estar consciente? Por que havemos de pensar que com a neurociência (estudo do cérebro) irá trazer-nos algo de novo acerca do nosso espírito? Por causa daquilo que já aprendemos: assim como descobrimos a forma como a matéria se organiza em termos de estruturação específica das coisas, devemos conseguir perceber a forma como outras estruturas semelhantes dão origem ao espírito. È disso que EDELMAN trata: estabelecer uma ligação entre aquilo que sabemos a respeito de nosso espírito, e aquilo que começamos, a saber, a respeito do nosso cérebro. Com o objetivo global de mostrar que é cientificamente possível compreender o espírito, descobrir a maneira como o espírito se relaciona com a matéria, em particular com a forma especifica de organização da matéria que lhe é subjacente. Toma como posição fundamental ao longo do livro que o espírito é um tipo especial de processo que depende de organizações especificas da matéria. Conclui que, ao analisarmos o nosso espírito, temos de ter em consideração quer o nosso parentesco quer as nossas diferenças relativamente às outras espécies. Uma dessas diferenças é que cada um de nós possui uma “alma” individual baseada na linguagem. No entanto, seja o que for que venhamos a descobrir a respeito das propriedades da linguagem, a triste realidade é que nem a psicologia nem a biologia permitirão a transmigração das almas. Temos que incorporar a biologia nas nossas teorias do conhecimento e da linguagem. Para conseguir isso, temos de desenvolver aquilo a que Edelman chama de epistemologia biologicamente fundamentada – uma explicação do modo como conhecemos e somos conscientes, à luz dos fatos da evolução e da biologia do desenvolvimento, onde o núcleo de qualquer ligação entre a psicologia e a biologia repousa, claro está, nos fatos da evolução. Foi Darwin quem primeiro reconheceu que a seleção natural devia poder explicar inclusive a emergência da consciência humana.

No sexto modulo desenvolvido no artigo A categorização cerebral de um mundo condicionado não classificado, Gerald M. Edelman, com a citação: “A morfologia constitui a base fundamental da função cerebral. A neuro-anatomia adequada desenvolve-se de acordo com princípios topo biológicos. De fato, o cérebro é um sistema topo biológico por excelência, uma vez que é formado por mapas e sistemas cartográficos onde a localização tem uma importância crucial para o desempenho” (EDELMAN, Gerald M.) , explicita-nos, no sentido de encontrar uma justificativa para o modo como o cérebro (com uma enorme diversidade e individualidade da estrutura cerebral) pode categorizar um mundo, embora condicionado pelas leis da física seja um local não classificado; e, mostra-nos no capítulo 10 – Memória e Conceitos: construindo uma ponte para a consciência (1992:147-162) ,, que qualquer tipo de memória, embora se baseie em alterações da força sinóptica, é uma propriedade do sistema dinâmico, cujas características dependem das estruturas neuronais reais onde tem lugar; e, fala sobre o funcionamento do cérebro como sistema de reconhecimento. Portanto, com duas observações (a enorme diversidade e individualidade da estrutura cerebral e a que o mundo, embora condicionado pelas leis da física, é um local não classificado), feitas por Edelman, podemos avaliar de que modo o cérebro, tal como é constituído, pode categorizar um mundo condicionado pelas leis da física e ainda não classificado, através da Teoria da Seleção de Grupos Neuronais – TSGN, cujos seus princípios – seleção do desenvolvimento, seleção da experiência e reentrada – são consideradas bases fundamentais para o desenvolvimento das funções psicológicas.

Edelman tenciona provar que a seleção somática, atuando sobre as cartografias globais, com novos tipos de cartografias juntando-se aos anteriores ao longo da evolução, é um poderoso meio de aquisição de novas funções tais como memórias especializadas e capacidades conceituais. Avalia antes, porém, de que modo se relacionam, do nosso ponto de vista, as “funções cerebrais superiores”. Que funções Psicológicas devem este ponto de vista selecionista poder explicar? De que forma podem essas funções explicar a consciência e a intencionalidade ?

Torna-se necessário que a memória e a aprendizagem se juntem numa ligação do sistema de valor mediados por partes do cérebro diferentes daquelas que levam a cabo a categorização, cuja condição suficiente para a adaptação é garantida pela ligação das cartografias globais às atividades dos chamados centros hedonistas e ao sistema límbico do cérebro, de uma forma que possa satisfazer as necessidades homeostáticas, de desejo e de consumo que refletem valores estabelecidos pela evolução. Estas estruturas cerebrais carregadas de valor, como o hipotálamo, vários núcleos do mesencéfalo e outras, evoluíram em resposta a exigências etológicas e alguns dos seus circuitos são específicos da espécie.

Como acabamos de ver, a rede do cérebro (formada pela conectividade dos sistemas neuronais, no sistema nervoso central – Mapas cartográficos) é criada pelo movimento celular durante o desenvolvimento e pela expansão e ligação entre neurônios com numero crescente progressivamente, cuja estrutura anatômica e do sistema nervoso é alcançada através de uma série de acontecimentos ao longo do desenvolvimento cerebral na vida humana e animal, justificando sua categorização de forma dialética com o mundo, embora condicionado pelas leis da física, constituindo ainda um local não classificado, diante de sua diversidade a ser conhecida pela nossa mente (cérebro) numa morfologia evolutiva especifica, que interage a vários níveis, desde os átomos até os músculos, cuja complexidade e o número das ligações cerebrais são extraordinários. O cérebro é um exemplo de um sistema que se auto-organiza, pois, as estruturas dinâmicas do cérebro apresentam a propriedade sistêmica de terem memórias: as alterações prévias modificam as alterações seguintes de maneiras especificas e especiais. O comportamento do sistema nervoso é, em certa medida, auto-alimentado em ciclos: a atividade cerebral conduz ao movimento, o qual por sua vez provoca mais – sensações e percepções e mais movimento. As camadas e os circuitos entre eles – constituem o objeto mais complexo que conhecemos e são dinâmicos, modificam se continuamente.

Portanto, em qualquer espécie, a aprendizagem resulta da operação de ligação neuronal entre as topografias globais e os centros de valor. Ela serve para estabelecer uma ligação entre a categorização e comportamento possuindo valor adaptativo em condições expectativa, ou seja, os sistemas fisiológicos têm pontos de disparos, cuja expectativa, a situação em que as condições de disparo, constituem porções do sistema hedônico, não foram ainda satisfeitos. EDELMAN dispensa boa parte do resto do capitulo a analisar as condições e modos de funcionamento da memória, de modo a discutir o assunto dos conceitos, além da tríade básica percepção, memória e aprendizagem, devido o fato de o funcionamento conjunto não poder, por si só, dar origem aos tipos de capacidades que ligam entre si as caracterizações perceptivas, de modo a obterem-se propriedades relacionais gerais; cujas propriedades surgem com a aquisição de capacidades conceituais – a capacidade de categorizar em termos de relações gerais ou abstratas. Seu objetivo é mostrar que com as bases fisiológicas da nossa tríade central e as capacidades conceituais no seu lugar, podem nos explicar o aparecimento da consciência, sem invocar quaisquer princípios novos, para além daquelas já contidos na TSGN (Teoria da Seleção de Grupos Naturais). EDELMAN chama de Conceito, o desenvolvimento evolutivo suplementar, para além da memória enquanto recategorização, ou seja, a aplicação do mesmo principio da memória à própria categorização, na verdade, a incarnação de grandes capacidades de categorização, cujo ponto de vista que partiu, tal como em relação à memória, afasta-se da imagem convencional. Utiliza-o para designar uma capacidade que surge na evolução antes da aquisição dos rudimentos da linguagem. Que capacidade é esta? È a de identificar uma coisa ou uma ação e, com base nessa identificação, controla o seu comportamento de uma forma mais ou menos geral. Este reconhecimento tem que ser relacional: tem que poder ligar uma categorização perceptiva a outra, aparentemente sem relação com a primeira, mesmo na ausência dos estímulos que desencadeiam essas categorizações.

No sétimo modulo desenvolvido no artigo Memória na perspectiva russelliana, com a citação: “Ao investigar as crenças mnemônicas, há certos pontos que devem ser tidos em mente. Em primeiro lugar, tudo o que constitui uma memória-crença está acontecendo agora, não naquele tempo passado a que se diz refletir-se essa crença” (Bertrand Russell) , explicita o que entende por Memória; introduzindo-nos numa das formas do mundo do conhecimento. Nesta IX Conferência – MÉMÒRIA, Russell apresenta-nos a análise do conhecimento-memória, tanto como introdução ao conhecimento em geral, como também porque a memória, de certa forma, é pressuposta em quase todo o outro conhecimento. A sensação, como concluiu, não é uma forma de conhecimento. Russell inicia a nossa discussão pela percepção, isto é, pela experiência integral das coisas no ambiente, de onde se obtêm a sensação, através da análise psicológica. Difere-nos o que se chama de percepção da sensação pelo fato de que os ingredientes sensoriais carregam com eles os associados habituais – imagens e expectativas dos seus correlatos normais – todos subjetivamente indistinguíveis da sensação. A experiência passada é fato essencial na produção de conteúdo da sensação, mas não a recordação da experiência passada. Portanto, os elementos não sensoriais da percepção podem ser inteiramente explicados. Como resultado do hábito produzido por correlações freqüentes. O que resulta formalmente, do nosso conhecimento do passado através de imagens cuja inexatidão nós conhecemos é que tais imagens devem ter duas características por meio das quais poderemos organizá-las em duas séries, em que uma corresponde ao período mais ou menos remoto no passado a que se referem, e a outra à nossa maior ou menor confiança na sua exatidão. Poderemos concluir, que as imagens são consideradas por nós como cópias de impressões: (1) as que podem ser chamadas impressões de familiaridade; (2) as que podem ser coligadas como impressões que dêem um sentido do passado (Pasthess). A primeira espécie de impressões leva-nos a nossas lembranças, a segunda leva-nos a atribuir-lhes lugares na ordem temporal. Russell analisa a crença- mnemônica em comparação com as características de imagens que levam a basearmos as nossas crenças-mnemônicas nelas. É obvio que a memória é o que nos faz chamar as experiências passadas de “nossas”; é a memória que prolonga nossa personalidade recuando-a no tempo; é a memória de nossa experiência, não simplesmente das coisas as que experienciamos.
Em a análise da mente, busca harmonizar duas diferentes tendências, uma em Psicologia e a outra no campo da Física, que são aparentemente inconsistentes. De um lado, muitos psicólogos, especialmente os adeptos do behaviorismo, tendem a adotar uma posição essencialmente materialista, que torna a Psicologia progressivamente dependente da fisiologia e da observação externa. Concebendo a matéria como algo muito mais concreto que a mente. O mundo, a seu ver, consiste em eventos, dos quais deriva a matéria por meio de uma construção lógica.

Propõe como resposta reconciliadora ao impasse a tendência materialista da Psicologia, com a tendência antimaterialista da Física é a teoria de William James e dos neo-realistas norte americanos, que concebem um mundo cujo elemento não é mental nem material, mas um elemento neutro, a partir do qual são construídos o mental e o material. Esforça-se na obra por desenvolver essa teoria com certo por menor, quanto aos fenômenos com a Psicologia se preocupa, em forma das conferências feitas em Londres Pequim e uma conferência, a que trata do Desejo foi publicada no Athenábaum.

No oitavo modulo desenvolvido no artigo O cérebro, a mente e o ser humano, de modo sistemático, colocando em evidência os argumentos de Steven Rose, na obra O cérebro do século XXI: como entender, manipular e desenvolver a mente ,: que podemos entender o presente apenas como contexto do passado; a história evolutiva explica como chegamos a ter o cérebro que temos hoje; a história do desenvolvimento explica como surge a pessoa, o indivíduo; a história social e cultural proporciona o contexto que restringe e dá feitio a esse desenvolvimento; e, a história individual da vida formada pela cultura, pela sociedade e pela tecnologia termina na idade e por fim na morte. Steven Rose, como neurocientista, acredita que saber “como o cérebro funciona” em termos das propriedades de suas moléculas, células, e sistemas também vai nos ajudar a compreender alguma coisa sobre como as mentes funcionam. Esta é para Rose, uma das questões mais importantes e interessantes que um cientista – ou, na verdade, qualquer outra pessoa em busca da verdade – pode fazer. No entanto, o que ele e seus colegas neurocientistas descobriram fornece-nos mais que um mero conhecimento passivo do mundo, visto que, cada vez mais, como sugerem as manchetes da Scientific American, esse conhecimento oferece a perspectiva de tecnologias sofisticadas para predição, mudança e controle das mentes.

O objetivo de Steven Rose, com o livro O cérebro do século XXI: Como entender, manipular e desenvolver a mente, é explorar exatamente até que ponto a crescente capacidade da neurociência para explicar o cérebro traz consigo o poder de consertar, modular e manipular a mente. Em particular Rose, esta interessado em um dos aspectos mais intrigantes, importantes e misteriosos de como a mente funciona: como nós, seres humanos, aprendemos e nos lembramos – ou, para ser mais exato, que processos ocorrem em nosso cérebro que possibilitam o aprendizado e a memória? É nesse âmbito, incluindo desde as propriedades de moléculas especificas em um pequeno número de células até o comportamento elétrico e magnético de centenas de milhões de células, desde a observação de células individuais em microscópio até o estudo do comportamento de animais confrontados com novos desafios – que atuam as neurociências, tornando-se uma área de investigação relativamente nova, cuja expansão teve lugar durante os últimos anos, levou diversas pessoas a sugerir que os primeiros dez anos deste novo século deveriam ser declarados ”a década da mente”. Tirar partido da escala e do sucesso tecnológico do Projeto Genoma Humano, conhecendo – e até decodificando – a complexa rede de interconexão entre as linguagens do cérebro e as da mente passou a ser visto como fronteira final da ciência. Com seus 100 bilhões de células nervosas, com seus 100 trilhões de interconexões, o cérebro humano é o fenômeno mais complexo no universo conhecido – sempre, é claro, à exceção da interação de uns 6 bilhões de cérebros como esses e de seus donos no interior da cultura sociotecnológica do ecossistemas do nosso planeta!

Para Rose, as contribuições para as neurociências vêm da genética – a identificação de genes associados tanto com as funções mentais normais, como aprendizado e memória, quanto com as disfunções que acompanham problemas como depressão, esquizofrenia e mal de Alzheimer. Da física e da engenharia vêm novas janelas para o cérebro fornecidas pelos sistemas de imagens: PET (tomografia por emissão de pósitrons); fMRI (imagens por ressonância magnética funcional): MEG (magnetoencefalografia) e outros – abreviações que escondem máquinas poderosas oferecendo visões do dinâmico fluxo elétrico através do qual o cérebro vivo conduz suas tarefas de milissegundo em milissegundo. Das ciências da informação vêm argumentos de que é possível modelar processos cerebrais por computação – até imitá-los no mundo artificial do computador, fazendo com que os neurocientistas retomem a reivindicar direitos sobre aquela terra incógnita final, a natureza da própria consciência, oferecendo literalmente dezenas de livros – sobretudo especulativos – com títulos que permutam o lugar do termo “consciência” foram publicados durante a última década (“Journal of consciousness studios”, e Tucson, no Arizona) abrigando regulares “conferências sobre consciência”. Diante disso, Rose, continua cético, mas tentará no livro o cérebro no século XXI: como entender, manipular e desenvolver a mente, explicar por que acha que, como neurocientistas, não temos nada de muito útil a dizer a respeito daquele “grande C” (de Consciência) em especial, e porque, portanto, como Wittgenstein disse muitos anos atrás, é melhor ficarmos calados.

O problema que preocupa enormemente Rose é como fundir toda a massa-produtiva das neurociências, quase inimaginável de dados, fatos e descobertas experimentais em todos os níveis, desde o submolecular até o do cérebro como um todo – em uma teoria coerente do cérebro. Porque o cérebro está cheio de paradoxos. Ele é simultaneamente uma estrutura fixa e um conjunto de processos dinâmicos, em parte coerentes e em partes independentes. As propriedades –“funções”- estão simultaneamente localizadas e deslocadas, embutidas em pequenos agrupamentos de células ou aspectos do funcionamento do sistema como um todo. Temos o conhecimento parcial de alguns desses agrupamentos e suas especialidades moleculares. Entender como eles se relacionam na rede neural mais ampla é um problema do qual apenas nos aproximamos. Bem além do final da “década do cérebro” e a meio caminho da suposta “década da mente”, ainda estamos ricos de dados e pobres em teorias, diz Rose, Para Rose, está claro, que o peso do sofrimento humano associado com os danos ou mau funcionamento da mente e do cérebro é enorme. Outra área de preocupação muito mais difusa e inquietante, apontada por Rose, é a epidemia mundial de depressão, identificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o maior perigo da Saúde desde século, em cujo alivio – embora dificilmente se obtenha a cura – toneladas de psicotrópicos são fabricados e consumidos todos os anos. O Prozac é o mais conhecido, mas apenas um dos diversos agentes desse tipo, projetados para interagir com o neurotransmissor serotonina; porém, as perguntas sobre por que está ocorrendo esse aumento dramático na diagnose da depressão raramente são formuladas – talvez por medo de que revele um mal-estar, não no individuo, mas na ordem social e psíquica.
Nosso cérebro (ser humano) demonstra ao mesmo tempo a unidade essencial dos seres humanos e a individualidade essencial de cada um. A fonte tanto das semelhanças como das diferenças está nos processos de desenvolvimento, desde a concepção até o nascimento, que pegam a matéria bruta dos genes e do ambiente e os empregam em um desenvolvimento contínuo, aparentemente sem marcas. O feto em desenvolvimento, e o ser humano único que ele virá a ser, é sempre tanto 100% produto do deu DNA como 100% produto do ambiente daquele DNA – e, isso inclui não apenas o ambiente celular e maternal, mas o ambiente social no qual a mãe grávida está localizada.

O ponto essencial para se apreender é que a vida é uma “coisa” estática, mas um processo. Não só durante o desenvolvimento, mas ao longo de todos o período de vida, todos os organismos vivos estão em um estado de fluxo dinâmico que tanto garante a estabilidade de momento a momento (homeostase) como a constante mudança ao longo do tempo ou homeodinâmica A vida inteira trata de ser e tornar-se; ser uma coisa e ao mesmo tempo transformar-se em algo diferente. È por isso que Rose, afirma que as criaturas vivas estão continuamente se construindo. Esse processo é um processo de autocriação, autopoiese , ou (como às vezes tem sido chamado) teoria dos sistemas de desenvolvimento . A célula, o embrião, o feto, em um sentido profundo, “escolhem” que genes ligar em qualquer momento durante seu desenvolvimento; eles são, desde o momento da fertilização, mas cada vez mais durante essa longa trajetória do nascimento e além, um agente ativo de seu próprio destino. É por meio da autopiese que o ser humano que vai nascer se constrói.

Para compreender as mentes de hoje, temos de compreender as pressões e restrições evolutivas que lhes deram o feitio. Nossas mentes têm todas as capacidades imaginadas por Santo Agostinho; elas podem conter o mundo, como Emily Diakinsen teria escrito. Nós temos individualidade e somos nós próprios. Somos conscientes, temos sentimentos. Amamos e odiamos, conseguimos teorizar o universo e construir filosofias e valores éticos. Conseguimos inventar e desinventar deuses. Acima de tudo, somos seres sociais e, nossas mentes funcionam com significados, não com informações. Sob alguns aspectos a expansão das capacidades mentais, dos nossos ancestrais unicelulares até o homo sapiens, aconteceu pari passu com a evolução de…quê?. Não apenas do cérebro, mas do cérebro no corpo e ao mesmo tempo na sociedade, na cultura e na história.

Exatamente, porque somos organismos biossociais, por que temos mentes constituídas pela interação evolutiva, de desenvolvimento, e histórica dos nossos corpos e do nosso cérebro (o punhado de neurônios – Francis Crick) com os mundos social e natural que nos rodeiam é que temos responsabilidades por nossos atos, que possuímos, como seres humanos, a faculdade de criar e recriar os nossos mundos.Nossa compreensão ética pode ser enriquecida, mas não substituída, pelo conhecimento neurocientifico, e assim o será por meio da atuação expressa socialmente que seremos capazes, só em que seremos, de administrarmos aspectos éticos, jurídicos e sociais das neurotecnologias emergentes.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BÁSICA
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COMPLEMENTAR

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Idem. Cadernos de Filosofia
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FILLIOZAT, Isabele na reflexão filosófica Um mundo de projeções
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