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Conexões entre ideias

Conexões entre ideias

Um estudante de Filosofia aprende nos primeiros meses de curso que o mundo evoluiu do Caos em direção à ordem, à calma, às leis, e que assim surgiram os nossos sofás e os canteiros do nosso jardim. Raras vezes aprende que o caminho usual das coisas pudesse ser diferente, como se de uma ordem inicial, e pela propriedade e funcionamento que unem as coisas, pudéssemos obter como consequência uma sucessiva desordenação dos conteúdos, uma trajetória continuada rumo às dubiedades, confusões, incertezas. O desarrazoado como direcionamento.

Nesta acepção, entre as possibilidades, teríamos inúmeras maneiras pelas quais as ideias poderiam estar ligadas umas com as outras. O esquecimento, por exemplo, poderia estar associado a um sentido de urgência, de importância, tal que levasse a lembranças de outros elementos. Assim, esquecer do que se fez em uma festa pode levar a pessoa a lembra intensamente do que houve antes dela.

Lacunas entre dois conceitos, o vazio entre duas concepções, podem fazer precipitar à mente elementos predisponentes que vagavam e que aguardavam uma espécie de espaço para poderem se precipitar e aparecer. Isso pode ocorrer quando a pessoa silencia a mente, enquanto realiza um trabalho mecânico qualquer, e subitamente se lembra de algo pendente, como uma conta a vencer; algo que de outro modo não se lembraria.

Estes são dois entre muitos exemplos que conexões entre ideias. Mas existem muitos outros que documentamos nos consultórios em Filosofia Clínica.

Uma ideia pode vir seguida de outra sem que exista qualquer elo de ligação entre elas, uma ideia pode estar com outra como em um quadro surrealista no qual uma escada de madeira encontra um céu anil em uma imagem cuja coerência é zero. Há diversos eventos na vida que são assim. Mas dificilmente serão entendidos e identificados se nós quisermos estabelecer a priori que tenham parentesco, que tenham lógica, que tenham vínculos necessários.

Pensamentos sofrem fraturas, rompem, acabam, são frágeis, assim como são diferente destas mesmas coisas. Seguir seus caminhos é uma parte do entendimento possível sobre eles.
artigo publicado na edição 46 da revista Filosofia, da Editora Escala

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