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A categorização cerebral de um mundo condicionado não classificado

“A morfologia constitui a base fundamental da função cerebral. A neuro-anatomia adequada desenvolve-se de acordo com princípios topo biológicos. De fato, o cérebro é um sistema topo biológico por excelência, uma vez que é formado por mapas e sistemas cartográficos onde a localização tem uma importância crucial para o desempenho”
(EDELMAN, Gerard M.)

(RESUMO:Este artigo tem por objetivo desenvolver de modo sistemático o enunciado epigrafado, sinalizando para o seu conteúdo, no sentido de encontrar uma justificativa para o modo como o cérebro (com uma enorme diversidade e individualidade da estrutura cerebral) pode categorizar um mundo, embora condicionado pelas leis da física seja um local não classificado, onde EDELMAN , no capítulo 10 – Memória e Conceitos: construindo uma ponte para a consciência, fala sobre como o cérebro funciona como sistema de reconhecimento.
Palavras-chaves: Morfologia, Neuro-anatomia, Sistema Topo biológico, Sistemas Cartográficos, Categorização cerebral e mundo condicionado não classificado)

EDELMAN propõe-se explicar a consciência pelo que chama de “Darwinismo neural”, que se opõe a idéia de determinação da mente pela genética, defendida por muitos Biólogos e geneticistas, como Francis Crick. Para estes, os aspectos mais importantes da mente estão codificado no DNA, que determina a estrutura e o funcionamento do Sistema Nervoso Hormonal e, por meio destes, as capacidades inatas, as tendências e os comportamentos individuais, incluindo inteligência, preferências sexuais e preconceitos raciais.

Hoje, porém, contrariando mais uma vez Crick, Edelman, vem desenvolvendo o darwinismo neural desde 1987, sustentando que, no essencial, a estrutura da mente não é fixada pela genética. Resulta de um processo de seleção que é análoga à seleção natural dos genes – e, por isso, é “darwinista”, mas não determinado por eles. È essencial a “degenerescência”, ou redundância, entre os módulos neuronais – ou seja, que módulos diferentes possam representar, aproximadamente, as mesmas formas, de maneira que possam concorrer entre si e ser comparados e selecionados.

A consciência propriamente dita forma-se quando, dessa interação entre tais módulos coordenada pela estrutura cerebral conhecida como hipocampo – processo que Edelman chama “reentrância” -, emerge uma experiência unitária das sensações que os filósofos chamam de qualia e são qualitativamente distintas das propriedades físicas dos estímulos: o verdor, o calor e assim por diante, a “consciência primária” (como nos cães), limitada à representação global e imediata do ambiente, sem o conceito de passado, futuro e de um si mesmo nomeável e a consciência de estar consciente; e, a “consciência secundária”, rudimentar no chipanzé e plena no ser humano, exige as capacidades semânticas e simbólicas de uma verdadeira linguagem (considerada por Edelman, uma invenção e extensiva a concepção darwinista neural), de sintaxe e capaz de ultrapassar o presente, permitindo aos atores representar a si mesmos e elaborar estratégias de sobrevivência em longo prazo.

Portanto, no ser humano, a informação está na maior parte, na própria “fiação”, a formação de circuitos entre os neurônios e as ligações entre percepções, sentimentos, pensamentos e comportamentos são determinados pela experiência, não pelos traços geneticamente herdados dos pais, pois, ao longo da vida e do aprendizado, neurônios distantes tendem a unir por meio das ligações sinapses, quando são estimulados ao mesmo tempo; tendendo a se tornar mais fortes ou mais fracos, conforme a experiência as reforça de maneira positiva ou negativa, precisando, para começar, que haja propensões inatas a perceber certos resultados como positivos ou negativos. Por exemplo, que se sinta a dor como ruim e a satisfação da necessidade de alimento como boa.

A visão da consciência para Edelman, talvez seja comparável à concepção da natureza humana por Karl Marx, tal como analisada pelo cientista político britânico Norman Geras. Baseia-se na distinção, entre a natureza humana “em geral”, constituída de necessidades e impulsos (inclusive de viver em comunidade e controlar o ambiente) que conduzem ao bem-estar e a natureza humana modificada e transformada em cada época histórica pelas circunstâncias, explicando o movimento geral da história e os antagonismos de classe, e é nos termos da medida em que essa natureza se torna simples instrumento do capital e deixa de desenvolver seu potencial que se pode falar em alienação e criticar um sistema social.

Por ver a consciência como conseqüência natural das funções cerebrais em nível celular, a concepção de Edelman é claramente oposta à de Descartes e de todo dualismo, inclusive na versão contemporânea do matemático Roger Penrose, que atribui a supostos fenômenos quânticos sub celulares um papel crucial na formação da consciência e da capacidade humana de transcender a lógica formal, bem como, se opõe ao materialismo reducionista de Francis Crick, que vê o cérebro como um computador no sentido mais estrito da palavra, ou seja, como uma máquina de Turing, um executor de alga ritmos passível de ser modelado por uma rede de processamento paralelo.

EDELMAN não rejeita a possibilidade de construir uma verdadeira consciência artificial e dedica muito de seus esforços a essa pesquisa e à construção dos artefatos da série Darwin, que procura simular o seu modelo de funcionamento cerebral (são máquinas evolucionárias), sem função predefinida e suas conexões “sinápticas” iniciais são distribuídas ao acaso.
A partir de sua concepção de darwinismo neural, Edelman propõe também uma “epistemologia baseada no cérebro”, ou neuroepistemologia, na qual o reconhecimento de padrões precede à lógica, fontes múltiplas e heterogêneas do conhecimento precisam ser levadas em conta e a experiência emocional é essencial à sua aquisição. È uma radicalização da proposta do filosofo estadunidense Willard Quine de “naturalizar a epistemologia” que, focada nos sentidos e na física, deixa de levar em conta o funcionamento interno do sistema nervoso e a intencionalidade, ou seja, a noção de que os estados mentais, crenças ou desejos se referem a objetos além da própria consciência, existentes ou não.

Além disso, de certa maneira, na opinião de COSTA (2008) , Edelman posiciona-se em um meio termo no debate do filosofo John Searle (afirma que os estados de consciência são intrinsecamente subjetivos e irredutíveis a qualquer definição ou explicação pelas ciências naturais, cuja formulação estaria ancorada no ponto de vista da terceira pessoa) com o colega Daniel Dennett (adota uma teoria reducionista, apoiada em programas de pesquisa em neurociências e inteligência artificial, que equipara o cérebro a um computador e a consciência a um software passível de ser analisado cientificamente, na terceira pessoa) sobre os qualia, pois, Edelman admite a realidade dos qualia, mas não a sua relevância. A ênfase na neurologia o leva a tentar explicar a consciência apenas em termos do cérebro individual, sem levar suficientemente em conta o papel da interação com o ambiente, principalmente o meio social. Isso o levou a considerá-la como um epifenômeno, ou seja, um efeito colateral do funcionamento do cérebro e da linguagem que não tem conseqüências causais próprias – assim como a homo globina (exemplo de Edelman). Porém, Edelman, cai em contradição ao escrever, em outra passagem, como notaram leitores atentos, biólogo Steven Rose, resenhista do jornal britânico The Guardian, sugeriu que, se não se quiser voltar a cair no dualismo cartesiano, é preciso ver na consciência um processo que emerge das interações dos portadores dos cérebros entre si e com o ambiente e não apenas entre os módulos cerebrais. O economista e especialista em inteligência artificial, o francês Jean-Paul Baquiast, notou o mesmo impasse e aponta para saída semelhante. Seu exemplo é um humano que, ao passar por uma floresta e pressenti rum predador, adverte seus companheiros, justamente porque sua consciência secundária, ou superior, pôde representar a situação geral do grupo e decidir intervir por meio de um discurso adequado.

Concluímos que a consciência nos informa de nossos estados cerebrais e é assim central ao nosso entendimento: Quem é esse “nós” que parece diferente tanto do cérebro físico quanto do processo de Consciência?

lâminas e por estruturas mais ou menos arredondadas chamadas núcleos (constituídas por um número muito grande de neurônios, por vezes, superior e outras vezes inferior ao do córtex, tendo evoluído para desempenhar funções numa complexa cadeia de ligações. O cérebro está ligado ao mundo exterior através de neurônios especializados, chamados receptores sensoriais, que constituem os órgãos dos sentidos e fornecem imput ao cérebro. O output do cérebro é realizado através de neurônios que estão ligados aos músculos e as glândulas. Na maior parte dos seus tecidos, há porções, que recebem imput apenas de outras porções do cérebro, fornecendo por sua vez output a outras, sem intervenções do mundo exterior. Poder-se-ia dizer que o cérebro está mais em contar consigo próprio do que com qualquer oura coisa.

Portanto, o meio de ligação fundamental é a sinapse, uma estrutura especializada em que a atividade elétrica transmitida ao longo do axônio de neurônio pré-sináptico, conduz à libertação de uma substância química (chamada neurotransmissor) que, por sua vez, estimula a atividade elétrica no neurônio pós-sináptico. Os neurônios têm formas muito variadas que determina, em parte, o modo como um neurônio se liga aos outros para constituir a neuro-anatomia de uma dada área cerebral. Os neurônios podem ter organizações anatômicas de muitos tipos, dispondo-se por raízes em mapas (princípio importante dos cérebros complexos) estabelecendo a relação entre os pontos situados nas camadas receptoras bidimensionais do corpo (por exemplo, a pele ou a retina do olho) e os pontos correspondentes situados nos tecidos que constituem o cérebro. Os mapas do cérebro comunicam entre si através de fibras que são as mais numerosas que existe no cérebro. Por exemplo, o corpo caloso, o principal feixe de fibras a fazer ligação entre partes do hemisfério direito de nosso cérebro e, parte do hemisfério esquerdo, através da linha média, contém cerca de 200 milhões de fibras. Iniciado seus conhecimentos minimamente após o século XIX.

Como acabamos de ver, a rede do cérebro (formada pela conectividade dos sistemas neuronais, no sistema nervoso central – Mapas cartográficos) é criada pelo movimento celular durante o desenvolvimento e pela expansão e ligação entre neurônios com numero crescente progressivamente, cuja estrutura anatômica e do sistema nervoso é alcançada através de uma série de acontecimentos ao longo do desenvolvimento cerebral na vida humana e animal, justificando sua categorização de forma dialética com o mundo, embora condicionado pelas leis da física, constituindo ainda um local não classificado, diante de sua diversidade a ser conhecida pela nossa mente (cérebro) numa morfologia evolutiva especifica, que interage a vários níveis, desde os átomos até os músculos, cuja complexidade e o número das ligações cerebrais são extraordinários. O cérebro é um exemplo de um sistema que se auto-organiza.

As estruturas dinâmicas do cérebro apresentam a propriedade sistêmica de terem memórias: as alterações prévias modificam as alterações seguintes de maneiras especificas e especiais. O comportamento do sistema nervoso é, em certa medida, auto-alimentado em ciclos: a atividade cerebral conduz ao movimento, o qual por sua vez provoca mais – sensações e percepções e mais movimento. As camadas e os circuitos entre eles – constituem o objeto mais complexo que conhecemos e são dinâmicos, modificam se continuamente.

Alguns cientistas ignorando a morfologia cerebral e a propriedade da memória tem sido tentados a explicar as propriedades mentais ao nível do quantum.

MEMÓRIA E CONCEITOS: CONSTRUINDO UMA PONTE PARA A CONSCIÊNCIA

Para Edelman, “a morfologia constitui a base fundamental da função cerebral. A neuro-anatomia adequada desenvolve-se de acordo com princípios topobiológicos. De fato, o cérebro é um sistema topobiológico por excelência, uma vez que é formado por mapas e sistemas cartográficos onde a localização tem uma importância crucial para o desempenho”.

Portanto, com duas observações (a enorme diversidade e individualidade da estrutura cerebral e a que o mundo, embora condicionado pelas leis da física, é um local não classificado), feitas por Edelman, podemos avaliar de que modo o cérebro, tal como é constituído, pode categorizar um mundo condicionado pelas leis da física e ainda não classificado, através da Teoria da Seleção de Grupos Neuronais–TSGN, cujos seus princípios – seleção do desenvolvimento, seleção da experiência e reentrada – são consideradas bases fundamentais para o desenvolvimento das funções psicológicas.

Edelman tenciona provar que a seleção somática, atuando sobre as cartografias globais, com novos tipos de cartografias juntando-se aos anteriores ao longo da evolução, é um poderoso meio de aquisição de novas funções tais como memórias especializadas e capacidades conceituais. Avalia antes, porém, de que modo se relacionam, do nosso ponto de vista, as “funções cerebrais superiores”. Que funções Psicológicas devem este ponto de vista selecionista poder explicar? De que forma podem essas funções explicar a consciência e a intencionalidade? Mostra-nos no capitulo 10. Memória e conceitos: construindo uma ponte para a consciência, que qualquer tipo de memória, embora se baseie em alterações da força sinóptica, é uma propriedade do sistema dinâmico, cujas características dependem das estruturas neuronais reais onde tem lugar. As três funções fundamentais – categorização, memória e aprendizagem – estão intimamente relacionadas: a última depende das duas primeiras.

Torna-se necessário que a memória e a aprendizagem se juntem numa ligação do sistema de valor mediados por partes do cérebro diferentes daquelas que levam a cabo a categorização, cuja condição suficiente para a adaptação é garantida pela ligação das cartografias globais às atividades dos chamados centros hedonistas e ao sistema límbico do cérebro, de uma forma que possa satisfazer as necessidades homeostáticas, de desejo e de consumo que refletem valores estabelecidos pela evolução. Estas estruturas cerebrais carregadas de valor, como o hipotálamo, vários núcleos do mesencéfalo e outras, evoluíram em resposta a exigências etológicas e alguns dos seus circuitos são específicos da espécie. O motivo porque isso acontece é óbvio: a atividade e o comportamento do acasalamento são muito diferentes nas aves e nas baleias.

Portanto, em qualquer espécie, a aprendizagem resulta da operação de ligação neuronal entre as topografias globais e os centros de valor. Ela serve para estabelecer uma ligação entre a categorização e comportamento possuindo valor adaptativo em condições expectativa, ou seja, os sistemas fisiológicos têm pontos de disparos, cuja expectativa, a situação em que as condições de disparo, constituem porções do sistema hedônico, não foram ainda satisfeitos.

EDELMAN dispensa boa parte do resto do capitulo a analisar as condições e modos de funcionamento da memória, de modo a discutir o assunto dos conceitos, além da tríade básica percepção, memória e aprendizagem, devido o fato de o funcionamento conjunto não poder, por si só, dar origem aos tipos de capacidades que ligam entre si as caracterizações perceptivas, de modo a obterem-se propriedades relacionais gerais; cujas propriedades surgem com a aquisição de capacidades conceituais – a capacidade de categorizar em termos de relações gerais ou abstratas. Seu objetivo é mostrar que com as bases fisiológicas da nossa tríade central e as capacidades conceituais no seu lugar, podem nos explicar o aparecimento da consciência, sem invocar quaisquer princípios novos, para além daquelas já contidos na TSGN (Teoria da Seleção de Grupos Naturais).

MEMÓRIA
Começando pela memória, EDELMAN, coloca-nos que uma das dificuldades de lidar com a memória residem no fato de terem sido descritos tantos tipos diferentes e de tantos de entre eles estarem tão intimamente relacionados com a capacidade lingüística que se torna difícil determinar os seus fundamentos. Como conseqüência, uma das bases fisiológicas da memória – a alteração sináptica – é com freqüência identificada com a memória propriamente dita, numa tentativa para simplificar as questões.

Procurando clarear o assunto, Edelman, considera que a memória, seja qual for a forma que assume, é a capacidade de repetir um desempenho, cujo tipo, depende da estrutura do sistema em que a memória se manifesta, uma vez que a memória é uma propriedade de sistema; onde no sistema nervoso a memória é uma propriedade dinâmica de populações de grupos (redes) neuronais dos processos perceptivos ou cognitivos. Estes são modelos formais em que as conexões entre os elementos das redes são modificadas de uma forma mais ou menos análoga à das sinapses; justificando, segundo Edelman, a metáfora “neuronal”, mas relativamente a outros aspectos a metáfora é reforçada.

Para Edelman, a memória humana não é nada semelhante à memória do computador, visto que os códigos internos e os sistemas sintéticos não descrevem adequadamente a memória humana: como episódica (em relação a acontecimentos passados), semântica (em relação à linguagem), procedimental (relativamente aos atos motores), declarativa (referindo-se a afirmações), e assim por diante. A memória é uma propriedade sistêmica: é diferente consoante a estrutura do sistema em que se exprime. Nos sistemas biológicos, a memória não pode ser confundida com os mecanismos que são necessários para o seu estabelecimento, como a mudança sináptica. Acima de tudo, a memória biológica não é uma réplica ou uma impressão codificada de forma a representar o seu objeto.

Seja qual for a forma que assume, a memória humana envolve um conjunto aparentemente aberto de ligações entre temas e uma rica textura de conhecimentos anteriores, que não pode ser adequadamente representada pela linguagem empobrecida da informática – “armazenamento”, “pesquisa de informação”, Imput e output. Para possuir memória é preciso ser capaz de repetir uma execução, de verificar, de relacionar os assuntos e as categorias com a nossa própria posição no tempo e no espaço, justificando o modo como o cérebro pode categorizar um mundo com uma enorme diversidade e individualidade da estrutura cerebral, condicionado pelas leis da física é um local não classificado. Portanto, para o fazer, é indispensável possuir um eu, e um eu provido de consciência pessoal biologicamente fundamentada, na primeira pessoa. Não há teoria do espírito que se preze que possa fugir a este assunto, que não é apenas uma questão de linguagem mas também um grande problema biológico.

Os modelos cognitivos são criados pelos seres humanos e, neste sentido, são idealizados – ou seja, são abstrações. Porém, dependem da formação de imagens como resultados da experiência sensorial, e também da experiência cinestésica – a relação do corpo com o espaço. LAKOFF sugere que o exercício destas funções conduz a vários esquemas cinestésicos e de imagem. Os esquemas têm propriedades que mais tarde se refletem na utilização da metáfora (consiste na referência ou decalque de uma coisa em outra num domínio diferente. Exemplo: “A raiva é um animal perigoso) e da metonímica (consiste na utilização de uma parte ou aspecto de uma coisa para representar a sua totalidade. Exemplo: “A sandes de presuntos saiu sem pegar” ).
O que é importante perceber é que os modelos cognitivos idealizados envolvem a incarnação conceitual, e que esta ocorre através das atividades corporais anterior ao aparecimento da linguagem. A incarnação conceitual é utilizada na categorização, permitindo a heterogeneidade e complexidade da categorização humana real. De acordo com isso, as categoriais do espírito correspondem a elementos dos modelos cognitivos. No entanto, os modelos cognitivos mais complexos correspondem àquilo que Lakoff chama categorias radiens, que consistem em múltiplos modelos ligados entre si em torno de um centro. A TSGN sugere, em uma cartografia global como o Darwin III, onde mostra obviamente sinais de uma forma de memória após o seu encontro com vários objetos, que a memória é o aumento específico de uma capacidade de categorização previamente estabelecida. Este tipo de memória emerge como uma propriedade coletiva, a partir das alterações dinâmicas continua sofrida pelas populações sinápticas nas cartografias globais – alterações essas que permitem que se verifique uma categorização. As alterações das forças sinápticas dos grupos no seio de uma cartografia global constituem a base bioquímica da memória.

Pela sua própria natureza, a memória é um procedimento que envolve uma atividade motora continua e uma prática repetida com contextos diferentes. As propriedades da associação, da incerteza e da generalização derivam todas da sistematização perceptiva, uma das bases iniciais da memória, ser de natureza probabilística. Portanto, uma das características dinâmicas do sistema de cartografias globais no cérebro é a sua capacidade de ordenar alterações sucessivas temporal dos acontecimentos – dos fenômenos sensitivos assim como dos padrões de movimento, o que propicia o categorizar um mundo condicionado e não classificado. Além de estar estruturado em mapas funcionalmente isolados que se encontram ligados entre si, por meio de reentrância, e que servem todas as diferentes modalidades sensitivas e repostas motoras, o córtex estabelece ligações com três estruturas a qual Edelman, chama de os órgãos da sucessão, obviamente porque têm que ver com a ordenação do output do cérebro, onde cada uma das estruturas – o cerebelo, o hipocampo (responsável ao estabelecimento de memórias de longo prazo) e os gânglios basais – diz respeito a um aspecto e uma escala de ordenação diferentes, que estão relacionadas com a sincronização, a sucessão dos movimentos e o estabelecimento da memória. Elas encontram-se intimamente relacionadas com o córtex cerebral ao mesmo tempo que ele cumpre as tarefas de categorização e da correlação, tal como são desempenhadas pelas cartografias globais, que sofrem juntos as alterações sinápticas necessárias à realização dos movimentos suaves subjacentes, quer à sistematização quer à recategorização. Estão ligados ao córtex cerebral por meio de uma série de circuitos paralelos implicados nos movimentos oculares e corporais, assim como as porções frontais do córtex, cuja função está relacionada com a planificação do comportamento e com as emoções; e, provavelmente que os gânglios basais estejam implicados na planificação do movimento e, através disso, na escolha do tipo e sucessão das execuções motoras.

CONCEITOS
EDELMAN chama de Conceito, o desenvolvimento evolutivo suplementar, para além da memória enquanto recategorização, ou seja, a aplicação do mesmo principio da memória à própria categorização, na verdade, a incarnação de grandes capacidades de categorização, cujo ponto de vista que partiu, tal como em relação à memória, afasta-se da imagem convencional. Utiliza-o para designar uma capacidade que surge na evolução antes da aquisição dos rudimentos da linguagem. Que capacidade é esta? È a de identificar uma coisa ou uma ação e, com base nessa identificação, controla o seu comportamento de uma forma mais ou menos geral. Este reconhecimento tem que ser relacional: tem que poder ligar uma categorização perceptiva a outra, aparentemente sem relação com a primeira, mesmo na ausência dos estímulos que desencadeiam essas categorizações. As relações que são retidas devem permitir respostas a propriedades gerais – “objeto”, “encima –embaixo” , “dentro”, e assim por diante. As capacidades conceituais desenvolvem-se na evolução muito antes da linguagem. Embora dependentes da percepção e da memória, elas são construídas pelo cérebro a partir de elementos que contribuem para ambas essas funções.

Edelman questiona: Como surgiram as capacidades conceituais? A TSGN propõe que para as capacidades conceituais possam surgir, é necessário o desenvolvimento evolutivo de áreas celebrais especializadas. Os conceitos implicam misturas de relações envolvendo o mundo real, as memórias e o comportamento anterior. Ao contrário das áreas cerebrais que intervêm nas percepções, as que intervêm na conceituação têm, que poder funcionar sem imput imediato.

Quais as operações cerebrais que dão origem a estas propriedades? A TSGN sugere que para formar conceitos o cérebro constrói mapas das suas próprias atividades e não apenas, como acontece com a percepção, dos estímulos externos. De acordo com a teoria, as áreas cerebrais responsáveis pela formação de conceitos contêm estruturas que categorizam, discriminam e recombinam as várias atividades cerebrais que ocorrem em diversos tipos de cartografias globais. Essas estruturas do cérebro, em lugar de categorizar imputs exteriores das modalidades sensitivas, categorizam porções de cartografias globais anteriores de acordo com a modalidade, com a presença ou ausência de movimento e com a presença ou ausência de relações entre as categorizações perceptivas, cujas estruturas prováveis, capazes de realizar estas atividades se encontrem no córtex frontal, temporal e pariental do cérebro. Elas devem representar na cartografia de tipos de mapas, ou seja, na realidade, elas têm que poder ativar ou reconstruir porções de atividades anteriores de cartografias globais de diversos tipos – por exemplo, aquelas que estão ligadas as diversas modalidades sensitivas, bem como, têm o poder de recombiná-las ou compará-las.

Concluímos com esta noção de conceitos, em que o cérebro categoriza as suas próprias atividades ( em particular as suas categorizações perceptivas), torna-se possível compreender de que modo podem ser incarnadas as categorias e imagens gerais, bem como é possível compreender de que forma os acontecimentos podem ser categorizados como “”passado”, sem precisarem de estar representados nas atividades cerebrais presentes, como acontece para a memória de curto prazo e para a sucessão que se dá no hipocampo conduzindo à memória de longo prazo. Além disso, podemos ver que as áreas conceituais, através da estimulação repetida de certas porções das cartografias globais, que contêm alterações sinápticas prévias, dão origem a combinações de relações e categorias.

Finalmente, devido ao fato de a combinação de conceitos se basear na tríade central – categorização perceptiva, memória e aprendizagem ela é, pela sua própria natureza, um mecanismo intencional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

EDELMAN com a discussão sobre a memória como recategorização e sobre os conceitos como produtos do cérebro ao categorizar as suas próprias atividades, fornece os elementos necessários para atingir os nossos objetivos: uma explicação biológica da consciência. Construída sobre os alicerces da TSGN (Teoria da Seleção de Grupos Naturais), a tríade fundamental constituída pela categorização perceptiva, pela memória e pela aprendizagem foi relacionada com o aparecimento das capacidades conceituais.
Um pensamento é um processo dinâmico estruturado da mente humana, que nasce geralmente de sensações, de percepções sensoriais ou sensitivas, das lembranças, de afetos e de emoções complexas, de conceitos, de deduções anteriores.
O homem só conhece a realidade na medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático.

EDELMAN propôs-se explicar a consciência pelo que chama de “darwinismo neural”, que se opõe a idéia da determinação da mente pela genética, defendida por muitos biólogos e geneticistas, como Francis Crick. Para estes, os aspectos mais importantes da mente estão codificado no DNA, que determina a estrutura e o funcionamento do Sistema Nervoso Hormonal e, por meio destes, as capacidades inatas, as tendências e os comportamentos individuais, incluindo inteligência, preferências sexuais e preconceitos raciais.

A pesquisa contemporânea sobre a natureza da consciência é pautada por duas posições: reducionistas ou paradigmas simbólico, também conhecido como cognitivismo clássico, que se ancora fortemente na lógica formal e nas concepções do lingüista norte-americano Noam CHOMSKY. Ele postula a autonomia as linguagem entre as funções cognitivas. O lingüista acredita que a linguagem é geneticamente determinada, mas que uma vez desenvolvida no individuo humano, ela não mantém nenhuma relação necessária com o funcionamento do organismo. O cognitivismo clássico investiu na metáfora computacional, segundo a qual o corpo seria o hardware e a mente o software. Nesta concepção, mente e cérebro são duas entidades distintas, com funcionalidades independentes e inconfundíveis.

No segundo paradigma sobre o funcionamento da mente é conhecido por conexionismo ou modelo de rede neurais. Ele parte da premissa oposta do paradigma simbólico: supõe que o pensamento humano é pautado de forma imediata pelas operações cerebrais. O conexionismo assume que a mente e o cérebro são uma só e a mesma coisa e que, uma vez desvendado o funcionamento do cérebro, o funcionamento da mente estará automaticamente desvendado, por extensão. A premissa é que a consciência humana é produzida nos termos desse funcionamento e não que a lógica do conhecimento se sobreponha a ele, como no cognitivismo clássico. Tais posições buscam responder à mesma questão: Qual o grau de autonomia que a consciência têm em relação ao corpo ou mais exatamente, à fisiologia e ao funcionamento do organismo? É este debate atual descrito pela reportagem de Carta Capital.

Quanto ao modelo de EDELMAN, Gerald M., Prêmio Nobel de Medicina em 1972, expõe no livro Second Nature , publicado em 2006, é que o funcionamento do cérebro humano está em aberto desde o nascimento da criança, e não opera segundo um roteiro predefinido. Para ele, o cérebro é um ambiente de “disputas” entre percursos sinápticos possíveis, que levariam a uma seleção preferencial de certos circuitos e conexões. Essa seleção seria pautada por estímulos vindos do próprio corpo no qual o cérebro está inserido por sua vez, em larga medida, os estímulos do corpo viriam do mundo no qual ele habita. A capacidade de adaptação humana em face da natureza seria, para Edelman, um componente indispensável na formação da sua consciência.

Em termos de modelos mentais computacionais, o modelo de Edelman é caracterizado como evolucionário, uma expressão usada em Inteligência Artificial para caracterizar sistemas inteligentes que se automodificam a partir de sua interação com o ambiente. São sistemas que “aprendem com a experiência”, incorporando novos elementos, não apenas em seu banco de dados, mas na sua própria constituição estrutural.

As limitações e objeções

O maior mérito do modelo de EDELMAN, segundo DALLARI , Bruno B. A.(2008), o qual concordo, é a plasticidade e o fato dele promover um caminho para explicar a singularidade dos indivíduos, conciliando a fundamentação biológica com uma concepção antideterminista da natureza humana. EDELMAN recusa a noção da consciência como um efeito colateral da atividade cerebral, tal como é caracterizada tipicamente por biólogos reducionistas. Ele atribui um papel central à consciência, caracterizando-a como uma atividade autônoma, em larga escala.

Porém, Edelman falha em apontar como ela é gerada. A consciência aparece no seu modelo como um dado sem origem nem explicação, sem que seu aparecimento e sua relação com os dispositivos descritos sejam explicados. O que levou Steven Rose, um biólogo britânico critico às suas teorias, a perguntar: “Aparece, de repente, um fantasma cartesiano no mecanismo cerebral?”

Esse “lapso” compromete definitivamente o alcance da proposta de Edelman. Falta ao seu modelo caracterizar os mecanismos de formação da “consciência pautados na linguagem e na sociabilidade, que advém da interação externa do individuo e não da interação interna dos neurônios. A caracterização desse aspecto da formação da consciência pode tornar secundários ou irrelevantes todos os mecanismos biológicos subjacentes a ela, conforme for a configurada. Ele pode ter uma caracterização pertinente do funcionamento cerebral, mas não dá conta de elucidar a produção da consciência.
O problema da formulação de Edelman é mais a incompletude do que o erro. Como serão preenchidos os vazios que ele deixa, a respeito dos vínculos entre o funcionamento do cérebro e elementos da consciência? Com mais biologia ou com mais entrada para aspectos sociais e psicológicos da produção do sentido? Como é a interface que liga o substrato biológico provido pelo organismo humano com os eventos que tipificamos como inequívoca e exclusivamente humanos – a cultura, a psicologia, a moral etc? Segundo seus críticos, sem responder a estas questões, Edelman não pode pretender ter um modelo explicativo da consciência humana. Assim, seu modelo pode ser considerado um passo adiante, mas que, na melhor das hipóteses, fornece a base, mas não a explicação da consciência humana.

As questões que permanecem no centro da atual investigação cientifica sobre como seria e como funciona a consciência humana são:

– Como conciliar os atributos determinísticos de um animal com a liberdade de consciência e de escolha e com a criatividade humana?

– A inteligência humana emancipa o homem de sua animalidade, como queriam os filósofos, ou é parte do que o inscreve nela?

BIBLIOGRAFIA
EDELMAN, Gerald. M. Biologia da consciência: as raízes do pensamento. Lisboa: Instituo Piaget, 1992. Cap. 10. Memória e consciência: construindo uma ponte para a consciência. PP. 147-162.
DALLARI, Bruno B. A. Professor de Lingüística na PUC-SP. In: Carta na Escola p. 49 e 50. O corpo humano e sua consciência: Neurociência. A consciência humana é só uma emanação do nosso corpo ou ela tem uma existência própria? Eis a questão
COSTA, Antonio Luiz M. C. O espírito dos neurônios: ciências. A Neurologia traz novas maneiras de entender os mistérios da consciência. In: Artigo Carta na Escola. Edição nº 77. Junho/Julho/2008. P. 42.

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